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CLÓVIS ROSSI
Os áulicos e os fatos
SÃO PAULO - O ministro Ciro Gomes deu, na quinta-feira, notável demonstração de bom senso e ponderação com a seguinte declaração:
"Qualquer brasileiro desempregado, qualquer dona-de-casa assustada
com a violência, qualquer estudante
frustrado porque não consegue uma
boa escola ou qualquer pessoa que
sofre humilhações nas filas dos hospitais [devido] à precariedade da saúde tem todo o direito de reclamar do
nosso governo. Temos de ter humildade, porque nós estamos muito longe de já ter cumprido aquilo que foi o
compromisso [de campanha] que é a
esperança".
Pena que os áulicos que infestam os
palácios de governo usem os dados de
crescimento da economia, que é real,
para tapar os fatos (também reais)
apontados não pela oposição, mas
por um não-áulico como Ciro.
Aliás, fatos antes também expostos
por outro ministro capaz de pensar
independentemente (Tarso Genro,
da Educação), em artigo para esta
Folha (dia 25 passado).
Nele, Tarso defendia o "início de
uma transição" do modelo econômico herdado, "capaz de crescer concentrando renda", para uma "nova situação estrutural".
Comentei o artigo neste espaço, e o
ministro mandou uma carta, dessas
típicas de prestação de contas aos
chefes, mas não negou que Lula herdara um modelo econômico "e busca
a superação deste".
São dois, portanto, os ministros capazes de enxergar, não na baixa, mas
no melhor momento da economia no
período Lula, que a esperança "está
longe" de ter vencido, para usar a expressão de Ciro.
Lula pode acreditar nos áulicos e
nas pesquisas em que subiu uns pontinhos. Ou pode lembrar que Fernando Henrique Cardoso também teve
pesquisas semelhantes, reelegeu-se e
terminou seu segundo período sem
que seu próprio candidato defendesse
seu legado (e o modelo que Tarso
Genro diz querer superar).
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