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ELIANE CANTANHÊDE
De "denuncista" a denunciado
BRASÍLIA - O depoimento do jornalista Luís Costa Pinto publicado pela
revista "Isto É" desta semana é avassalador, não para um jornalista nem
para um veículo de comunicação,
mas para toda uma categoria.
Em resumo, ele admite que errou
feio, ao publicar, lá se vão uns dez
anos, uma capa da revista "Veja" informando que o então deputado Ibsen Pinheiro -ex-presidente da Câmara e citado como presidenciável-
tinha depósitos de US$ 1 milhão.
Eram de US$ 1.000.
Tudo é grave, mas o mais grave é
que o erro foi descoberto a tempo, antes de a revista ir para as bancas. Mas
só foram feitos ajustes. Há diferentes
versões: seria caro, o repórter "bancou" a informação, medo de uns e
acomodação de outros.
Resultado: a "onda denuncista" ganhou corpo e impediu que todos ouvissem os argumentos do réu (ou vítima), lessem a auditoria da consultoria Trevisan a seu favor, tivessem clemência. E jogou fora a vida política e
a paz pessoal de Ibsen Pinheiro. Ele
foi cassado, emagreceu dez quilos e
fechou-se em silêncio.
Um dado perturbador é que o pivô
dessa história foi, nada mais, nada
menos, Waldomiro Diniz -que já
naquela época trabalhava e denunciava ao lado de José Dirceu e de
Aloizio Mercadante nas CPIs de Collor, primeiro, e do Orçamento, depois. Na versão de Costa Pinto, quem
lhe deu as cifras erradas foi Waldomiro, anos depois flagrado pedindo
1% em negociata com um bicheiro.
O "mea culpa" de Costa Pinto expõe a imprensa e o PT quando se discute o Conselho Federal de Jornalismo e corrobora minha posição desde
o início: a favor da discussão sobre algum tipo de olhar externo sobre a atividade jornalística e contra um conselho em forma de autarquia proposta pelo presidente- ou seja, com a
mão do Estado, do governo e de entidades alinhadas a partidos políticos.
Ontem, o PT era o "denuncista". Hoje, é o denunciado clamando contra
os "denuncistas".
Para Ibsen: pedido de desculpas serve para alguma coisa?
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