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CLÓVIS ROSSI
Faltam cancelamentos
PARIS - O presidente da República adotou, no caso "The New York Times", a manjada tática de declarar vitória e bater em retirada correndo. A
quem pensa que engana?
Teria sido melhor aceitar que o cancelamento do visto foi um colossal erro, cancelar o cancelamento, convidar
Larry Rohter para tomar uma cachacinha (e só uma) no Alvorada, contar
algumas historinhas de suas conversas com Bush e pronto: Lula certamente ganharia uma reportagem
simpática no jornal norte-americano
que reduziria o estrago provocado pelo texto infeliz.
Para completar a limpeza de área,
deveria cancelar, isso sim, o emprego
de todos os assessores que divulgaram
fantasias a respeito das ocultas motivações para a reportagem.
Inventaram que Rohter era apenas
a ponta-de-lança do governo norte-americano no esforço para desmoralizar Lula. Bobagem.
Mesmo que se aceite, só para argumentar, a tese de que o "NYT" é o braço de papel da Casa Branca, ainda assim permanece de pé o fato de que as
relações Bush-Lula são quase "imelhoráveis", como poderá atestar qualquer um do entorno presidencial que
não tenha sido assolado por infantis
teorias conspiratórias.
Houve até quem escrevesse que a vitória do Brasil sobre os Estados Unidos na disputa sobre os subsídios ao
algodão na Organização Mundial do
Comércio foi uma das razões para o
governo Bush vingar-se de Lula usando a pena de Rohter.
Mais uma formidável tolice. O caso
do algodão foi iniciado pelo governo
Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula herdou-o, inclusive a decisão final.
Se a Casa Branca quisesse vingar-se,
o alvo teria sido FHC, até porque o ex-presidente chegou a equiparar o unilateralismo do governo Bush a terrorismo -um avanço verbal do qual
Lula jamais chegou perto.
Como o presidente parece dar ouvidos a essas teorias ridículas e até concordar com elas, fica mais fácil de entender o seu pobre governo. Sua assessoria e ele próprio preferem fantasiar
a encarar os fatos.
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