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VALDO CRUZ
Manual trocado
BRASÍLIA - Todo governo que se preze deveria ter à mão um bom manual
de gerenciamento de crises. Fernando Henrique Cardoso, durante seus
dois mandatos, deu mostras de que
leu, releu, decorou e colocou em prática um de excelente qualidade.
Tudo indica, porém, que levou consigo seu manual preferido quando esvaziou suas gavetas no Palácio do
Planalto. Ou deixou-o escondido em
alguma estante, empoeirado, longe
do alcance dos olhos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Afinal, desde o início deste ano, o
que se vê dentro do Planalto é uma
usina de confusões. Se há um manual
sendo lido por Lula, com certeza ele
deve prescrever dicas de como gerar e
incendiar uma crise.
O pior é que 2004 tinha tudo para
ser um excelente ano. Inflação controlada, contas externas no azul, superávit da balança comercial em alta. Mas, desde janeiro, o governo patina, patina e patina.
Ficou quase paralisado em janeiro
por causa da reforma ministerial. Em
fevereiro, experimentou uma fase de
letargia com o escândalo Waldomiro
Diniz. Depois, a base aliada quase se
partiu e a oposição derrotou o governo petista no Senado.
Agora, Lula transforma um caso
menor numa baita de uma crise, arranhando profundamente sua imagem. Quem acha que "tudo bem, o
Lula é assim mesmo", deveria conversar melhor com a turma da economia.
Na quinta-feira, auge do caos gerado pela reportagem do "New York Times", investidores ligavam preocupados, temerosos com o ambiente político reinante no Brasil.
Talvez muita gente no governo não
perceba, mas estamos num período
de turbulências. As coisas vão ficar
bem mais difíceis. Poderíamos estar
mais bem preparados para enfrentar
esse momento, mas o governo perdeu
muito tempo batendo cabeça.
Antes que seja tarde, os conselheiros do presidente poderiam providenciar logo um bom manual para
Lula. Não precisam ir muito longe.
Basta buscar um exemplar no gabinete do ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça).
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