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CLÓVIS ROSSI
Descasou ou casou só no papel?
SANTANDER - Atravessar o
"charco" (como os espanhóis às vezes se referem ao oceano Atlântico)
foi como mudar os sinais vitais. Saí
do Brasil com a informação, por
exemplo, de que o volume de vendas do comércio subira 10,6% no
primeiro semestre em relação a
idêntico período do ano anterior,
na maior expansão semestral desde
que o índice começou a ser elaborado, em 2001.
Desembarquei na Espanha com a
informação de que a eurozona (formada pelos 15 países que adotam o
euro como moeda) conheceu o primeiro recuo em sua economia desde que uniformizou critérios para
medir o desempenho econômico,
faz já 13 anos.
É desnecessário dizer que, se as
vendas do comércio continuam
bombando, é porque os consumidores mantêm elevada a sua confiança. Aqui, relata o jornal espanhol "El País", "os índices de confiança do consumidor e da indústria
européia estão no chão".
Some-se o Japão, também embicando para a recessão, e constate-se
a ironia de que os Estados Unidos,
epicentro original da crise, ainda
conseguiram crescer algo no segundo trimestre, em vez de retroceder
como a eurozona, e pronto, tem-se
o cenário feito para jurar que ocorreu de fato o tal "decoupling" -o
descasamento entre ricos e
emergentes.
Aí vêm os chatos do "Financial
Times" para informar que não é
bem assim, ao menos no mercado
financeiro: o índice S&P 500 (EUA)
caiu menos neste ano (12%) do que
as Bolsas de Brasil (-15%), Rússia e
Índia (mais de 20% de queda) e os
"gritantes" 54% da China.
Mais: a redução do déficit comercial dos EUA vai provocar o encolhimento do saldo em outros países,
especialmente China (e o Brasil?).
Conclusão: "Você pode acreditar na
globalização ou em descasamento,
mas não em ambos". Escolha a sua
crença, porque os sábios cada vez
sabem menos.
crossi@uol.com.br
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