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OS MOTIVOS DO BOM SALDO
A valorização do real de janeiro a setembro, estimada em
19,8% pelo Banco Central, não afetou até aqui a balança comercial brasileira, que tem apresentado resultados expressivos, atingindo US$ 20,7
bilhões até a primeira semana de novembro -o dobro do ano anterior.
Registrou-se nesse período um crescimento de 23,6% nas exportações
-enquanto as importações aumentaram apenas 2,8%.
Certamente, dois dos fatores determinantes para esse comportamento
foram a contração da demanda doméstica e a queda na renda dos consumidores. O mercado externo se
transformou em fonte de demanda
para vários segmentos da indústria
de bens de consumo, como o complexo automobilístico, e de bens intermediários, na área de siderurgia,
metalurgia e papel e celulose.
O crescimento das economias norte-americana, chinesa e argentina, os
principais mercados para os produtos brasileiros, também contribuiu
para sustentar os preços e as vendas
externas. O acelerado crescimento
chinês tem sido fundamental para o
aumento da cotação de metais como
ferro, alumínio, cobre e níquel.
Há, portanto, fatores conjunturais
internos e externos que explicam
parte do excelente saldo comercial
brasileiro. O fator mais relevante, no
entanto, é o avanço das exportações
do setor de agronegócios. Em torno
de 82% do superávit tem sido garantido pelo agronegócio. Esse setor
passou por acelerado processo de
modernização, ganho de escala e
avanço tecnológico -com importante auxílio de pesquisas da Embrapa. O aumento de produtividade permitiu uma expansão média de 15,7%
no volume exportado, aproveitando
um avanço de 10,5% nos preços internacionais dos produtos vendidos
pelo país. Com isso, houve uma elevação de 27,8% no valor das exportações do setor até setembro de 2003
em comparação com o mesmo período de 2002, segundo pesquisa da
consultoria MB Associados.
No complexo da soja, por exemplo,
as quantidades exportadas em grão
cresceram 27,6%, enquanto os preços subiram 14,4% e o valor total aumentou 46% no mesmo período. Esse padrão se repetiu no mercado de
café, celulose, fumo, couro, carnes e
açúcar cristal.
Em princípio, mudanças na conjuntura doméstica e externa poderiam alterar significativamente o
quadro da balança comercial. No entanto há expectativas de que os preços das commodities agrícolas e minerais deverão permanecer elevados
no próximo ano, dados os baixos níveis de estoques e a provável retomada do crescimento mundial.
As boas notícias, porém, não devem servir para turvar a evidência de
que o superávit comercial vai se mostrando muito dependente da capacidade exportadora dos agronegócios.
Seria desejável que o país movesse
esforços para diversificar sua pauta
de exportação e substituir importações, sobretudo naqueles setores
mais deficitários, como os complexos químico e de bens de capital.
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