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ELIANE CANTANHÊDE
Robin Hood às avessas
BRASÍLIA - Ruth Cardoso sempre dizia, e agora o Ministério da Fazenda
põe no papel: em vez de socorrerem
os mais pobres, os recursos sociais públicos no Brasil vão parar nas mãos
da classe média e dos ricos; em vez de
instrumentos de redistribuição, tornam-se instrumentos de concentração de renda. Uma espécie de Robin
Hood às avessas.
Ruth e Palocci constataram. O que
se espera é que finalmente o governo
ponha a mão nessa cumbuca para redirecionar o gasto público social. O
que, convenhamos, não é fácil.
Exemplo: 73% dos gastos sociais
são com a Previdência, e nós acompanhamos bem a defesa feroz das
aposentadorias precoces e integrais
nos debates sobre as reformas.
O exemplo vale para tudo: universidades, hospitais, reembolsos iguais
para todos. Qualquer tentativa de
mudança, vem aí uma gritaria. Mas
é preciso haver mudança, principalmente num governo do PT.
Uma curiosidade: apresentado como roteiro para uma ampla reforma
dos gastos sociais, o documento é da
Fazenda, do poderoso Palocci. O que
só reforça a velha pergunta: onde estão os ministros da área social?
Essa deveria ser a menina dos olhos
do governo do PT, mas é um amontoado de ministros sem verbas, sem
criatividade, assíduos nas listas da
reforma ministerial. Não se esperava
tanto pragmatismo na política econômica nem tanto amadorismo na
social. Duas surpresas. Ao inverso.
Tema recorrente, a reforma ministerial viria a calhar para reverter a
surpresa negativa, trocando ministros que não mostraram a que vieram por outros capazes de equilibrar
a expectativa do PT na oposição com
a ação do PT no governo. Ao que tudo indica, isso não vai ocorrer, porque o Lulinha Paz e Amor não quer
jogar ao mar velhos amigos petistas
derrotados nas urnas de 2002.
Em sendo assim, ficamos conversados: Palocci, agora, é também superministro da área social. Para mudar
o destino de verbas que deveriam ir
para os mais pobres e acabam nas
mãos de quem grita mais. Ou de
quem é simplesmente esperto.
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