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CLÓVIS ROSSI
O BC de um olho só
SÃO PAULO - É assustadora a incapacidade do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, de ler a
conjuntura brasileira e o papel que o
BC deveria nela desempenhar.
Diz Meirelles que "o país parece
cansado do padrão de arrancadas e
freadas que tem caracterizado o desempenho econômico nas últimas décadas". Bobagem.
O país está, sim, cansado, muito
cansado, do crescimento econômico
medíocre das últimas décadas. É irrelevante se ele se dá por meio de freadas e arrancadas, mais freadas que
arrancadas, a bem da verdade. O relevante é que não cresce nem perto do
necessário.
Segunda frase assustadora: "Bolhas
de crescimento são fáceis de inflar e
difíceis de sustentar".
Outra bobagem. O que é fácil de inflar é o desaquecimento, não o crescimento. Prova-o a paralisia que toma
conta da atividade produtiva no país
em grande medida por culpa da teimosia do BC em manter taxas de juros obscenamente altas -e desnecessariamente altas.
Sei que é inútil repetir, mas vamos
lá: função do BC, se se quiser seguir o
modelo norte-americano, que tanto
apaixona a bugrada colonizada, é
não só manter a inflação sob controle, mas também estimular, quando
necessário, o crescimento.
Não é por outra razão que Alan
Greenspan, o chefão do Fed, o BC dos
EUA, reduziu os juros a muito perto
de zero quando a economia começou
a desacelerar.
O BC de Meirelles é cego de um
olho: vê só a inflação e, ainda por cima, de forma míope, usando míssil
para abater passarinho.
Será que não tem ninguém no governo com dois olhos?
Fernando Canzian informa, nesta
Folha, que o sistema energético norte-americano é "um misto de muitas empresas privadas e algumas públicas".
Ué, a privatização não era a salvação
da lavoura, em todo o planeta? Não curaria de Aids a mau hálito? O que aconteceu?
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