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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O BC de um olho só

SÃO PAULO - É assustadora a incapacidade do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de ler a conjuntura brasileira e o papel que o BC deveria nela desempenhar.
Diz Meirelles que "o país parece cansado do padrão de arrancadas e freadas que tem caracterizado o desempenho econômico nas últimas décadas". Bobagem.
O país está, sim, cansado, muito cansado, do crescimento econômico medíocre das últimas décadas. É irrelevante se ele se dá por meio de freadas e arrancadas, mais freadas que arrancadas, a bem da verdade. O relevante é que não cresce nem perto do necessário.
Segunda frase assustadora: "Bolhas de crescimento são fáceis de inflar e difíceis de sustentar".
Outra bobagem. O que é fácil de inflar é o desaquecimento, não o crescimento. Prova-o a paralisia que toma conta da atividade produtiva no país em grande medida por culpa da teimosia do BC em manter taxas de juros obscenamente altas -e desnecessariamente altas.
Sei que é inútil repetir, mas vamos lá: função do BC, se se quiser seguir o modelo norte-americano, que tanto apaixona a bugrada colonizada, é não só manter a inflação sob controle, mas também estimular, quando necessário, o crescimento.
Não é por outra razão que Alan Greenspan, o chefão do Fed, o BC dos EUA, reduziu os juros a muito perto de zero quando a economia começou a desacelerar.
O BC de Meirelles é cego de um olho: vê só a inflação e, ainda por cima, de forma míope, usando míssil para abater passarinho.
Será que não tem ninguém no governo com dois olhos?
 
Fernando Canzian informa, nesta Folha, que o sistema energético norte-americano é "um misto de muitas empresas privadas e algumas públicas". Ué, a privatização não era a salvação da lavoura, em todo o planeta? Não curaria de Aids a mau hálito? O que aconteceu?



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