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O FIM DO VESTIBULAR
Vai no bom caminho a proposta do Ministério da Educação
(MEC) de tornar obrigatório o Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio).
Esse teste, realizado após a conclusão do antigo 2º grau, é hoje optativo.
Algumas faculdades utilizam-no como parte do processo seletivo, mas
fica a cargo de cada instituição definir se o faz e o peso que dará à prova.
A idéia por trás da obrigatoriedade
é dar os primeiros passos para a extinção do vestibular, uma excrescência pedagógica a ser eliminada. É evidente, porém, que a tarefa nada tem
de simples. Existe um sem-número
de dificuldades teóricas e práticas à
medida, mas é esse o caminho a trilhar. Basta observar que a esmagadora maioria dos países civilizados conta com algum tipo de exame final do
ensino médio que é usado, ao menos
parcialmente, para definir se o aluno
vai ou não para a universidade e, em
caso afirmativo, para qual. Na França, o teste leva o nome de "baccalauréat"; na Itália, é conhecido como
"maturità"; na Alemanha, "Abitur";
e, na Suécia, "avgangsbetyg".
Em princípio, não há nenhuma razão para o Brasil ser uma exceção
mundial, em que cada instituição de
ensino superior tem de elaborar uma
prova diferente para selecionar seus
estudantes. O mais grave efeito colateral dessa situação é que os principais vestibulares do país acabam se
tornando o ponto de referência para
os "curricula" do segundo grau. Em
São Paulo, por exemplo, as escolas
do ciclo médio ensinam aquilo que
está no programa da Fuvest, que faz
a seleção da USP.
Essa situação é bastante indesejável. Afinal, a prova da Fuvest não foi
concebida para converter-se em diretrizes curriculares, mas apenas para
definir -e ainda assim apenas em
princípio- quais são os melhores
alunos. A obrigatoriedade e a universalização do Enem teriam pelo menos a vantagem de deixar a cargo do
poder público -e não de dezenas de
fundações e escolas espalhadas pelo
país- a definição do programa do
ensino médio. Outro benefício para
os alunos é que não teriam de se submeter à maratona de provas das instituições em que pleiteiam uma vaga.
A transição do atual regime para o
projetado, contudo, nada tem de trivial. O Enem ainda se ressente de
problemas como a falta de estabilidade, ou seja, de exames com igual
grau de dificuldade todos os anos.
Parece também difícil que todos os
alunos do país que concluem o ciclo
médio façam provas de redação e as
tenham corrigidas segundo critérios
relativamente uniformes. E haveria
obstáculos para que universidades
selecionassem, segundo suas próprias especificidades e as da carreira
escolhida, estudantes a partir de um
exame aplicado nacionalmente.
Todos esses problemas, porém,
podem ser contornados. Tudo indica que a idéia de tornar o Enem um
exame de conclusão do ensino médio merece ser levada adiante.
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