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EDITORIAIS
MERGULHO À JAPONESA?
Tão frequentes são as comparações entre a década de estagnação econômica japonesa e os
rumos cada vez mais incertos da economia norte-americana que o presidente do banco central dos Estados
Unidos está sendo chamado de
"Greenspan San" (sr. Greenspan).
Não se trata da hipótese mais pessimista, de um colapso financeiro seguido por uma grande depressão,
como ocorreu nos EUA a partir da
crise de 29. No caso do Japão e, talvez, dos EUA, o cenário predominante é o de uma longa estagnação
em que a economia cresce pouco, ou
seja, abaixo de sua capacidade.
Economistas como Paul Krugman,
professor do prestigioso Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, que
até pouco tempo atrás criticavam a
aproximação entre as situações norte-americana e japonesa, começam a
rever os seus modelos. O baixo dinamismo da economia pode criar tantos problemas quanto a recessão pura e simples.
Aliás, a crise japonesa, no início
dos anos 90, tornou popular a crítica
ao modelo japonês de capitalismo.
No final dos anos 90, quando o resto
da Ásia mergulhou na crise, a crítica
aos exotismos do capitalismo oriental, sobretudo à corrupção e à falta de
transparência de seus sistemas contábeis, era lugar-comum entre investidores, técnicos e burocratas de instituições multilaterais. Se na América
Latina imperava o chamado "Consenso de Washington", para o resto
do mundo valia um desprezo ostensivo pela suposta má governança nos
modelos asiáticos.
Hoje, os Estados Unidos exibem
indicadores cada vez mais frustrantes de produtividade, sofrem uma
onda de imoralidade contábil e padecem, como no caso do Japão, com o
fim de um forte ciclo especulativo.
Para Krugman, o fantasma de uma
crise no mercado imobiliário também começa a rondar a economia
norte-americana.
Uma lição que se pode tirar da análise do caso japonês é a de que o Estado demorou para agir e foi tímido
quando atuou. Na semana passada,
o Fed (banco central dos EUA) manteve inalterada a taxa básica de juros,
contrariando expectativas.
Enquanto Greenspan acompanha
a lentidão da economia com uma paciência oriental, fala-se cada vez mais
nos EUA em desemprego estrutural.
Nesse cenário, o crescimento lento
da economia é incapaz de reanimar o
mercado de trabalho.
O Estado mal consegue reagir, pois
a desaceleração econômica derruba a
arrecadação de impostos e fragiliza
também a capacidade de uso do gasto público como política de reativação. Torna-se cada vez mais difícil
identificar fontes de dinamismo para
a economia dos EUA.
O estouro da bolha especulativa no
mercado financeiro acentua o desaquecimento da economia, produzindo uma forte retração dos investimentos e o enxugamento de praticamente todas as formas de crédito.
A retomada do crescimento depende da recuperação dos investimentos. Mas eles só voltam quando há
crédito e confiança nos mercados de
capitais. No entanto, a crise nas Bolsas de Valores é também, hoje, uma
crise de valores, com o desmoronamento de quase um século de confiança em práticas de auto-regulação
do mercado de capitais.
A crise econômica japonesa tem sido forte e prolongada. A hipótese de
um mergulho semelhante na maior
economia do mundo, infelizmente,
não pode ser desprezada.
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