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ELIANE CANTANHÊDE
Agora ou nunca
BRASÍLIA - Ao encerrar a série dos candidatos a presidente na Folha,
sexta-feira, José Serra parecia um
professor aplicado falando para uma
platéia igualmente aplicada. Lá pelas tantas, discorreu sobre a Alca,
seus prazos, suas implicações, e vangloriou-se: "Estudei direitinho".
É verdade. Todos reconhecem que
Serra estudou tudo direitinho: a Alca, a saúde, a economia, o crescimento, os rumos, os gargalos. Está bem
preparado para ser presidente.
O problema, como o sociólogo FHC
identificou lá atrás e foi publicado
aqui, é o estigma: "Serra seria um
bom presidente, mas é um mau candidato". Não é, porém, vítima apenas dele próprio. É também vítima
das circunstâncias.
O mar não está para candidato governista. Poderia ser Tasso, Paulo
Renato, Aécio, fosse quem fosse. E
Serra ainda piorou tudo ao tentar ser
meio governo. Perdeu parte do apoio
que viria pela gravidade e não ganhou os apoios que são naturalmente oposicionistas.
A situação da candidatura é dramática numa semana crucial. Amanhã, FHC recebe os candidatos, um a
um. O foco, claro, estará sobretudo
em Lula, fortalecido pelo Datafolha
de hoje, e em Ciro Gomes, que precisa
calibrar melhor o tom de oposição e
a sedução das elites. Mandar o mercado "se lixar" num jantar com o
mercado não parece prudente.
Na terça, será disparado o derradeiro míssil para salvar a candidatura tucana: os programas de rádio e
de televisão. Serra tem mais tempo,
mas será que o fator tempo é o fundamental? Eis uma dúvida.
No PT, no PSDB e entre "experts"
em eleições, Serra ainda não está
morto, mas está difícil crer em recuperação. É agora ou nunca. Ou ele
tem chances de ser presidente, ou vai
se contentar em ser um grande eleitor. Lula conta com isso. Ciro trabalha contra isso. Antes de partirem
um contra o outro, ambos espiam
Serra.
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