São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008 |
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FERNANDO RODRIGUES O dever da Justiça
BRASÍLIA - Os ex-militares em
busca da insólita reparação na Justiça por danos morais, físicos e psicológicos sofridos durante o combate à guerrilha do Araguaia têm a
chance de prestar um grande serviço ao país. Podem provar seus pesadelos revelando em detalhes as
atrocidades cometidas durante o
confronto nos anos 70, inclusive os
locais onde estão os corpos de dezenas de militantes de esquerda.
Reportagem de Sérgio Torres ontem na Folha informou sobre a intenção de algumas centenas de ex-militares. Eles reclamam uma indenização total de quase R$ 300
milhões. Alegam carregar "seqüelas psicológicas" por causa do envolvimento no extermínio de guerrilheiros na Amazônia, fato ocorrido há mais de três décadas.
A Justiça está aí para isso mesmo. Quem se sente lesado tem o direito de reclamar. É esse também o
caminho das famílias de militantes
torturados, mortos e desaparecidos
durante a ditadura militar (1964-1985). Mais de 130 corpos nunca
apareceram.
Conservador, o governo Lula se
auto-excluiu do debate. "Este é um
assunto do passado, que não tem
nada a ver com o futuro", disse o
ministro da Justiça, Nelson Jobim.
Caberá agora aos juízes responsáveis pelo casos dos ex-militares
fazer história. Podem determinar
uma condição preliminar: os reclamantes terão de descrever minuciosamente as atrocidades praticadas -as torturas a militantes de esquerda e o trabalho de ocultação
dos cadáveres de guerrilheiros.
Se um ex-militar se recusar a relatar o ocorrido ou alegar amnésia,
não terá como sustentar perante
um juiz seus tormentos do presente. Ninguém fica abalado psicologicamente com algo já esquecido.
A Justiça foi fundamental no
Chile, na Argentina e no Uruguai
para ajudar a cicatrizar as feridas
das ditaduras locais. Agora, chegou
a vez do Judiciário brasileiro. |
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