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CLÓVIS ROSSI
Colonialismo explícito
MADRI -Foi uma cena constrangedora. O primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, em público (era uma
entrevista coletiva), mandou o presidente argentino, Eduardo Duhalde,
fechar com a maior rapidez um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Chegou a dizer que o futuro da Argentina passava pelo acordo.
Que essas coisas sejam ditas nos encontros reservados entre autoridades
ou pelo telefone, vá lá. Já é meio inusual, mas, enfim, o mundo é cada vez
mais inusual.
Agora, em público, parece cena de
colonialismo explícito, ainda mais
que a Espanha investiu uma pilha de
dinheiro na Argentina e, portanto,
tem suas razões para preocupar-se
com a saúde da ex-colônia (ex?).
Aznar já parece normalmente arrogante, mesmo quando não o é. Quando é, fica insuportável.
Difícil é dizer o que foi pior: se as ordens públicas do espanhol ou se a
subserviência do argentino, que ouvia tudo caladinho, apenas assentindo com a cabeça.
Além do colonialismo explícito, a
recomendação de Aznar, que, aliás,
falava em nome de toda a União Européia, da qual é o presidente de turno até 30 de junho, é discutível do
ponto de vista técnico.
Primeiro: o anterior governo argentino (o de Fernando de la Rúa) foi a
pique apesar de ter um acordo com o
Fundo que até liberou uma pilha de
dinheiro para sustentar o insustentável (o câmbio fixo).
Logo, o mínimo que se pode dizer é
que acordos com o Fundo podem até
ser saudáveis, mas não garantem coisa alguma.
Segundo: pelo menos dois economistas respeitados pela sabedoria
convencional (Jeffrey Sachs e Joseph
Stiglitz) criticam o Fundo pela maneira como está lidando com a crise
argentina no atual estágio.
Logo, se o futuro da Argentina depende mesmo de passar pelo Fundo,
como diz Aznar, pode ser ainda pior
do que o desgraçado presente.
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