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VALDO CRUZ
Arco-íris do preconceito
BRASÍLIA - Um constrangido Fernando Henrique Cardoso segurava,
na semana passada, uma bandeira
com as cores do arco-íris durante cerimônia de lançamento do Programa
Nacional de Direitos Humanos.
Símbolo do movimento gay, a bandeira havia sido entregue ao presidente por um militante. Era um
agradecimento por FHC ter defendido o projeto que legaliza a união civil
entre homossexuais.
Bem perto dali, no Congresso Nacional, o gesto presidencial causou
calafrios na bancada do preconceito,
que acusou FHC de estar "institucionalizando a homossexualidade e a
promiscuidade" no país. Um absurdo, mas que pega.
De forma enrustida, até aliados de
FHC desaprovaram seu apoio à
união civil gay. Ato, na visão deles, de
político em final de carreira, que não
depende mais de votos.
Um deles, por sinal, correu das
emissoras de TV que queriam entrevistá-lo sobre a tramitação do projeto, no Congresso desde 95. Afinal, há
uns 15 dias, ouviu um alerta de um líder religioso: "Sabe aquele projeto da
união gay? Se você votar a favor dele,
seus 10 mil votos vão virar cem".
De autoria da então deputada
Marta Suplicy (PT), o texto está
pronto para ser votado no plenário
da Câmara. Mas nunca entra em
pauta, porque a turma do contra
sempre consegue barrar.
Usam argumentos frágeis, como a
velha história de que o país tem problemas demais a serem resolvidos.
Realmente tem. Mas, se formos
aguardar a solução de todos os problemas mais sérios, o preconceito
continuará predominando.
Há alguns anos, por sinal, falou-se
muito que a estabilidade econômica
dos anos FHC faria o debate eleitoral
se deslocar para temas mais sociais,
de direitos humanos, de comportamento, começando a resgatar as minorias de seus guetos.
Que nada. A economia continua o
centro das atenções eleitorais. Já assuntos como união gay permanecem
tabus no Brasil do século 21. Os amigos de FHC que o digam.
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