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CLÓVIS ROSSI
Os cérebros e a "terceira onda"
SANTANDER - Vem aí o que os
especialistas chamam de "terceira
onda" de migrações internacionais,
na forma de competição por talentos de alto nível.
O aviso foi dado ontem por Ronald Skeldon, da Escola de Estudos
Sociais e Culturais da Universidade
britânica de Sussex, no seminário
"Globalização, Migração Internacional e Desenvolvimento". É uma
promoção do Clube de Madri, centro de estudos que reúne 69 ex-chefes de governo, hoje presidido pelo
chileno Ricardo Lagos.
Se a previsão estiver correta, será
mais uma onda de fuga de cérebros,
tema que esteve em moda não faz
tanto tempo assim. O Brasil muito
provavelmente será vítima, na medida em que já está havendo uma
diáspora formidável de brasileiros
mesmo antes de aberta a temporada de caça.
Mas Skeldon discute a idéia de fuga de cérebros: segundo ele, dos latino-americanos (brasileiros incluídos, como é óbvio) que emigraram para os Estados Unidos, 55%
receberam treinamento no país de
destino. Ou seja, a maioria não fugiu propriamente, mas desenvolveu-se lá mesmo. É uma tese discutível, na medida em que não leva em
conta o custo da educação de base
feita no país de origem.
Reforça a idéia de uma onda de
caça a talentos o fato de que a União
Européia aprovou, embora ainda
não tenha implementado, um Pacto
Migratório, que prevê buscar médicos nos países emergentes ou pobres para devolvê-los depois de devidamente treinados e aperfeiçoados. Guillermo de la Dehesa (Centro para Pesquisa de Política Econômica, de Londres), autor de um
livro lançado ontem sobre migrações, avisa que, quando voltam, os
médicos não vão para as áreas em
que são mais necessários.
O Brasil, que permitiu uma diáspora descontrolada, pode preparar-se para a nova onda. Agora, cérebros são mais importantes na tal
economia do conhecimento.
crossi@uol.com.br
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