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MELCHIADES FILHO
Peixe grande
BRASÍLIA - O PT catarinense, que
hoje controla a Secretaria da Pesca,
tem pela frente um difícil ciclo eleitoral e por isso corre para garantir
abrigo. E, já que a Petrobras não
bastou para acomodar o condomínio de siglas que apóia Lula, convém fundar outra estatal para gerir
as reservas do pré-sal.
Ainda que isso tudo seja verdade,
não cabe tratar da emancipação do
Ministério da Pesca e da invenção
da "PetroSal" apenas como manobras do governo federal para ampliar o cabide de empregos. Há algo
mais importante em jogo.
O novo status concentrará na
pasta de Altemir Gregolin todo o
ordenamento do setor, hoje espalhado por várias repartições. Uma
única canetada poderá liberar a
criação extensiva de pescado nos lagos de hidrelétricas ou licitar áreas
oceânicas. É a cartilha da Casa Civil:
ruim para o Ibama, bom para o país.
Quanto à Petrobras, os PACmen
do Planalto sabem o quanto devem
aos impostos e dividendos repassados pela empresa. Mas sabem, também, que uma "PetroSal" permitiria à União antecipar receitas e
morder a bolada que atualmente fica com municípios e Estados ("royalties") e com os acionistas.
Guardadas as devidas proporções, nos dois casos Lula busca lastro orçamentário e liberdade executiva.
Dinheiro e poder, na veia.
As críticas ao aparelhamento do
Estado são pertinentes, sobretudo
neste momento de despreocupação
fiscal. Mas elas têm impacto reduzido. Urnas e pesquisas de opinião seguidamente revelam que o eleitor
não só aceita como deseja os dedos
do Estado na economia.
A oposição erra, portanto, quando martela somente a tecla do inchaço da máquina pública. Marcos
regulatórios, observâncias ambientais, priorização de investimentos
-no peixe e no óleo, o Planalto precisa ser desafiado a responder a essas urgências também. O dinheiro
de Tupi pode erguer a educação pública? Pode. Mas pode acabar irrigando apenas as Unilixos da vida.
mfilho@folhasp.com.br
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