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CLÓVIS ROSSI
Argentina, economia e teologia
BUENOS AIRES - A Argentina está crescendo neste ano ao ritmo asiático
de 8%, o desemprego diminuiu (pouco, mas diminuiu), o investimento
aumentou 30%, o consumo cresce.
Parece um milagre, em especial depois da crise de 2001/02.
O que aconteceu? Simples, na opinião do jovem presidente do Banco
Central, Alfonso Prat Gay, 37 anos,
uma usina de idéias instigantes, convencionais e não-convencionais: a
maioria de seus colegas economistas
segue o que ele chama piedosamente
de "economia normativa".
Quer dizer o seguinte: apostam no
que "deve acontecer" se forem dadas
tais e tais condições, não na vida real.
Prefiro chamar esse tipo de comportamento de teológico, pois pressupõe
que, também na economia, quem
viola um dos dez mandamentos vai
inexoravelmente para o inferno.
A Argentina violou os dez. Ou, como rememora Prat Gay, "rompeu todos os contratos, meteu a mão no bolso de todo o mundo (ao introduzir o
famoso "corralito", a retenção de depósitos) e fez a moratória".
Por que, não obstante, não foi para
o inferno, embora tenha dado um
mergulho nele, sim? Porque a vida e a
economia são mais complicadas.
Pena que o espaço seja pequeno para detalhar a análise de Prat Gay. Fico num caso micro: uma empresa
lançou apartamentos de US$ 1,5 milhão no agradável bairro de Palermo.
Vendeu todos em uma semana.
Ah, dirá você, brasileiro cínico, é
porque, para rico, não há crise, e só
rico compra essas coisas. É meia verdade, contesta Prat Gay. A outra metade da verdade é esta: os preços da
construção caíram, mas os preços do
prédio pronto voltaram, em dólares,
aos níveis do câmbio fixo, gerando
oportunidades tremendas de lucro. A
economia real, ao contrário da teológica, move-se por esses parâmetros.
Se eu fosse o ministro Palocci, incluiria Prat Gay na lista de economistas que ele consulta regularmente,
das mais variadas visões.
P.S. - Concedo ao leitor três semanas de férias, neste espaço. Sei que é
pouco, mas é tudo o que posso fazer
para aliviá-lo, por enquanto.
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