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ELIANE CANTANHÊDE
À saúde o que é da saúde
BRASÍLIA - Saúde é saúde, vacina, hospital, cirurgia, remédio, equipamento, médico. E saneamento, segurança, alimentação, lazer, trânsito,
habitação. É, enfim, nascimento, vida e morte com dignidade.
Não dá para entender a decisão do
governo Lula de surrupiar uma grana preta da saúde para jogar no programa de erradicação da miséria
-que veio para somar, não diminuir. Soa a jeitinho. E abre um precedente perigoso. Amanhã, tira-se outro naco para combater a violência
(arma de fogo é a segunda causa de
morte em áreas de São Paulo) ou para cobrir buraco em estrada (acidente também acaba com a saúde, certo?). Para a saúde mesmo, migalhas.
Em números, grosso modo, as verbas para a saúde em 2002 (último
Orçamento consolidado) batiam em
R$ 42 bilhões, somando União, Estados e municípios, o que dá R$ 0,70
por dia para cada cidadão. Autor da
conta, o ex-deputado, ex-secretário
paulistano e ex-petista Eduardo Jorge lembra que isso vale para paciente
de malária, deficiente renal, safenado, vítima de Aids e câncer. R$ 0,70!
Com o governo Lula, em vez de aumentar, esse valor pode diminuir. O
reajuste do orçamento federal da
saúde deveria ser de R$ 5,5 bilhões,
mas o governo abocanhou R$ 4,4 bi:
R$ 3,5 bi para a erradicação da miséria e mais R$ 900 milhões excluídos
sabe-se lá por quê.
Eduardo Jorge e o ainda petista Roberto Gouveia (SP) entraram com
ação no Ministério Público exigindo
revisão do Orçamento, mas não gritam sozinhos e têm pressa -antes
que o exemplo de cima tenha efeito
em cascata nas 27 unidades da Federação e nos mais de 5.500 municípios,
todo mundo desviando verbas da
saúde para a fome ou algo assim.
Que o governo do PT tenha enveredado pelos juros estratosféricos, superávits primários mais realistas que o
rei e reformas duras de Estado pode
ser justificável do ponto de vista da
credibilidade, confiança do mercado,
investimentos, blablablá. Mas que o
governo do PT surrupie verba da
saúde pública é absolutamente indesculpável. Aí já é demais.
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