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CLÓVIS ROSSI
A sacralidade da burrice
MADRI - Volta ao debate na Europa o Pacto de Estabilidade e Crescimento,
aquele que, entre outras regras, manda punir com pesada multa o país
que, por três anos seguidos, tiver déficit público superior a 3% do PIB (medida da produção de um país).
Note o leitor que o debate é parecido com o que existe no Brasil, mas
com o sinal matemático trocado: o
governo do PT agarra-se a um SUPERÁVIT brutal (4,25% do PIB) ao passo que, na Europa, é tolerável um
DÉFICIT de 3%.
O motivo do debate é simples: a
Alemanha e talvez a França devem
registrar três anos de déficits já em
2004. Como são os dois principais
países da União Européia, insinuam
apelar para o "tapetão", mudando as
regras do jogo no melhor estilo do futebol tupiniquim.
A pretensão tem lógica. A revista
britânica "The Economist" (que
odeia o déficit público), no número
que está nas bancas, diz que "muitos
economistas concordam que faz pouco sentido forçar governos europeus
cujas economias estão perto da recessão a cortar o gasto público".
Por que, no Brasil, que também está perto da recessão, faz sentido,
manter um superávit tão elevado? Os
fanáticos do manual dirão que as
condições de financiamento dos governos europeus, mesmo os mais débeis, são mais favoráveis do que as
que o Brasil encontra.
Têm razão, mas só parte da razão.
No Brasil também não faz o menor
sentido impedir o governo de gastar
um pouco mais (ou ter um superávit
menor) se o rompimento da camisa-de-força puder ajudar a içar a economia do marasmo.
Afinal, mais atividade econômica
significa mais arrecadação de imposto, o que ajuda a ter superávit.
É de bom senso que países, pessoas e
botequins gastem apenas aquilo que
ganham (ou arrecadam). Mas conferir sacralidade ao superávit fiscal
(gastar menos do que arrecada, portanto) já é teimosia ou burrice.
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