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VINICIUS MOTA
Dinheiro das profundezas
SÃO PAULO - Diga-se tudo dos
congressistas, menos que não sabem farejar bufunfa a distância.
Mais penetrantes que as sondas da
Petrobras, políticos já vislumbram
um país inundado pelo combustível
que fluirá desse éden submarino
chamado pré-sal.
Germina uma batalha legislativa
pela redistribuição preventiva da
grana que, a título de royalties e
participações especiais, sai do caixa
das petroleiras e abastece o cofre de
municípios, Estados e União. Foram R$ 15 bilhões no ano passado,
cifra que só vai aumentar, para não
dizer disparar, nos próximos anos.
Senadores e deputados debruçam-se sobre a polêmica do côncavo e o convexo. Estados como o Rio,
de fronteiras côncavas qual os braços do Cristo Redentor, reclamam
os paulistas convexos, concentram
demais, e injustamente, o dinheiro
das profundezas. O governo federal
acha que os 40% que hoje abocanha
é uma fatia muito modesta do bolo.
A Marinha quer a liberação da
verba dos royalties que no papel é
sua para defender melhor os novos
mananciais de petróleo. O ministro
Mantega pleiteia uns caraminguás
para o seu fundo soberano, que por
ora não é fundo nem soberano.
Os mais espertos, claro, começam pelo começo: como vai ser o
modelo de exploração das jazidas
gigantes do pré-sal? A Petrobras,
que no início ensaiou uma cartada
ousada -recuperar na base do tapetão o monopólio perdido na abertura de FHC-, parece que recuou.
O foco da controvérsia é saber se o
governo terá controle sobre o volume de produção física dos novos
campos, por meio de uma estatal
nova, por exemplo, ou se essa será
uma decisão empresarial do concessionário, como acontece hoje.
O mais importante, contudo, será
discutir que proveito a sociedade
fará da renda dos poços ultraprofundos. Poucas decisões nas últimas décadas terão sido tão fundamentais para o destino do país.
vinimota@folhasp.com.br
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