|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Matar ou morrer
RIO DE JANEIRO - O pior de uma
guerra, entre outros piores, é o sacrifício de inocentes de ambos os lados. Seria utópico que numa luta
entre o bem e o mal, o crime e a lei,
somente um lado (o mal e o crime)
fosse exterminado. No confronto
atual entre polícia e bandidos, aqui
no Rio, o número de inocentes aumenta a cada dia.
Agora mesmo, enquanto escrevo
esta crônica na manhã de quinta-feira para o fechamento antecipado
da edição de domingo, o trânsito
aqui da Lagoa está imobilizado: dois
policiais foram mortos na confluência que dá acesso à Fonte da
Saudade.
Não se trata de uma vingança da
sociedade contra a polícia que em
menos de uma semana matou por
engano dois inocentes, revelando,
de um lado o despreparo de alguns
policiais e, de outro, a paranóia que
tomou conta da cidade. Tal como
nos velhos filmes de gângsteres, o
dilema é matar para depois interrogar ou morrer para depois revidar.
Dois absurdos que não deviam fazer sentido, mas acabam fazendo
nexo no dia-a-dia da luta entre bandidos e mocinhos.
De maneira geral, a mídia demoniza a polícia, atribuindo-lhe todas
as balas perdidas de uma curiosa
batalha em que apenas um dos lados atira. Outro dia, no Rio, num
ônibus conduzindo turistas idosos,
foi encontrado um arsenal de pistolas, fuzis, bombas e 16 mil cartuchos, além de grande quantidade de
maconha, vinda do Paraguai. Tratava-se do reabastecimento semanal
de um dos pontos do tráfico de droga.
Esse arsenal ao que parece nunca
será usado. Nos confrontos entre a
polícia e os traficantes, somente as
armas do Estado disparam. Matam,
sobretudo, os inocentes. Desde que
as autoridades decidiram pelo confronto com o crime, a alternativa
que resta é primeiro matar para interrogar, ou morrer para depois revidar.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Crise, férias e minhocas Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Merecido apoio aos professores Índice
|