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CLÓVIS ROSSI
Não há arroz para todos
SÃO PAULO - Está certo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
pedir o aumento da produção de
alimentos como arma de combate à
alta de preços, que afeta principalmente a comida.
Mas sugiro que o presidente ouça
um dos mais lúcidos executivos
brasileiros, aliás seu interlocutor
eventual, cujo nome sou obrigado a
preservar, porque nossa conversa
foi informal.
O ponto central de sua análise é o
que dá título à coluna. Arroz é usado como símbolo. Não é só arroz
que não há para todos. Uma porção
de outros alimentos também não
há. Sem falar em petróleo.
Como China, principalmente, e
Índia resolveram adotar o padrão
ocidental de consumo, ficou claro o
que pensadores alternativos vinham dizendo faz tempo, mas ninguém lhes dava muita atenção, porque se impôs a ditadura do pensamento único, que marginaliza vozes discordantes: o padrão de consumo do mundo rico, se copiado, leva fatalmente a que não caibamos
todos no planeta Terra.
A disparada de preços do arroz
(para ficar só nesse símbolo) é a manifestação da escassez (ou do crescimento maior da demanda do que
da produção). O preço alto é a forma
de tirar o arroz da boca de quem não
tem tanto dinheiro. Força inexoravelmente a redução do consumo.
No caso do Brasil, menos afetado
pela chamada "agflação", vai-se
chegar ao mesmo resultado, via encarecimento dos preços, inclusive e
principalmente do preço do dinheiro, diz o executivo.
Quanto à inflação, ele lembra um
detalhe até agora fora do foco: para
2009, já está contratada elevação de
preços administrados (serviços públicos, privatizados ou não). Porque
são reajustados pelo IGPM, que, do
ano passado para este, deu um salto
de ao menos 30%.
Temo, por isso, que aumentar a
produção, por boa idéia que seja, é
insuficiente e/ou tardia.
crossi@uol.com.br
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