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CARLOS HEITOR CONY
O forasteiro
RIO DE JANEIRO - De repente,
apareceu em Cabo Frio um personagem novo -não exatamente novo, mas inesperado. E não se tratava
apenas de uma pessoa nova e inesperada, mas de um ofício igualmente novo e inesperado.
No centro da cidade, junto ao canal que leva as águas da lagoa para o
oceano, apareceu um negro, fino e
comprido como um pente, que estendeu na calçada um plástico azulado e, em cima dele, fazia uma porção de coisas com uma porção de
outras coisas.
De uma lata de marmelada Colombo, retangular e fina, fazia a caçamba de um caminhão, encaixando nela as peças suplementares de
madeira que lascava com um facão
que nenhum cabo-friense havia visto maior e mais eficiente.
Usando ainda outra lata de marmelada, mas com um cabo de plástico e quatro ou cinco fios de arame
estendidos, fazia um cavaquinho
que produzia um som abominável
que enfeitiçava crianças à medida
que irritava os pais, que acabavam
comprando o brinquedo.
Outras peças também artesanais
e malfeitas faziam sucesso, como
barquinhos cortados de pita, uma
palmeira comum na região, com
caule mole e macio, que flutuava
bem. Pintados em cores berrantes,
na maioria das vezes em vermelho e
azul, os barquinhos eram disputados, primeiramente pelas crianças,
depois pelos veranistas, que os levavam para casa como decoração marinha e local. Não havia pasmo por
quem fabricava aquelas coisas. Pasmo havia por quem as comprava.
Um forasteiro é luxo exclusivo de
cidades pequenas, de gente que tem
tempo e modo de saber quem é do
lugar e quem não é.
Um dia, Cabo Frio amanheceu
grande, cheia de cariocas e de mineiros, mas vazia de forasteiros. Foi
pior? Foi melhor? Não sei.
Sempre fui um forasteiro em
qualquer lugar.
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