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Deterioração rápida
VÃO SE DETERIORANDO rapidamente as condições políticas e econômicas na
Argentina. A queda-de-braço entre governo e ruralistas em torno
da carga fiscal que incide sobre o
setor é antes de mais nada um
sintoma. Foi para financiar suas
políticas populistas que a presidente Cristina Kirchner pretendeu impor uma derrama aos
agricultores, criando uma escala
móvel de tributos sobre exportação que pode chegar a até 95%.
O Executivo queria com isso
abocanhar mais recursos e também desestimular as exportações, aumentando a oferta interna de alimentos com vistas a reduzir os episódios de desabastecimento e a inflação. O que ocorreu, porém, foi o inverso.
Os ruralistas reagiram ao pacote fiscal de março promovendo
seguidos locautes, que agravaram a falta não só de gêneros alimentícios como também de
combustíveis. Produtos difíceis
de encontrar significam aumento de preços. A inflação se acelerou, apontando para 30% neste
ano, e já faz analistas preverem
uma forte redução no ritmo de
crescimento do PIB. No início do
ano, falava-se em 8%; agora a estimativa é de 5%. Para o ano que
vem, as expectativas baixaram
de 6% para algo entre 2% e 3%.
A avaliação popular de Cristina
Kirchner tem recuo ainda mais
expressivo. Segundo o instituto
Poliarquía, sua popularidade
despencou de 54% em fevereiro
para 20% em junho.
Será difícil para a Argentina
sair da encrenca em que se meteu. Antes de mais nada, o governo precisa parar de manipular
escandalosamente os índices de
inflação e se empenhar em combatê-la de verdade. Isso, entretanto, exigiria medidas duras,
como subir os juros e moderar o
gasto público, sem mencionar o
nó das tarifas subsidiadas.
É tudo o que o governo não fará
diante da aproximação das eleições parlamentares de 2009, tidas como vitais para o futuro político do casal Kirchner.
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