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ELIANE CANTANHÊDE
A anistia que não acabou
BRASÍLIA - Vinte e cinco anos se passaram desde a anistia de 1979, que
não foi "ampla, geral e irrestrita",
mas foi por onde tudo começou. Tudo, ou seja, a longa e pacífica redemocratização brasileira.
Como disse o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, em entrevista para esta edição, aquela primeira
anistia foi como "lenço de papel, você
tira da caixinha e surge logo outro".
Depois daquele lencinho, que trouxe de volta grandes líderes políticos e
livrou da cadeia jovens idealistas e
promissores, vieram a revogação da
Lei de Segurança Nacional, as "diretas já", a constituinte, a primeira eleição direta para presidente... até a
eleição de FHC em 1994 e a de Lula
em 2002. Com eles, os anistiados assumiram o poder.
Avanços enormes, gigantescos, mas
a anistia não foi concluída. O mais
recente e mais chocante exemplo é o
assassinato de moradores de rua a
pauladas em plena São Paulo. A
anistia de 1979 atingiu a elite, suspendeu a tortura da elite. Mas a tortura existia antes e continuou existindo depois para a "ralé", para os
excluídos. Os pobres e miseráveis ainda não tiveram clemência da sociedade e dos governantes brasileiros.
Os setores organizados, a dissidência decente do regime, a oposição e a
esquerda foram às ruas para lutar
pela anistia da sua elite política e dos
filhos da classe média. Mas voltaram
todos para casa, e o pau continuou
quebrando nas costas de milhões.
Como diz Thomaz Bastos, os anos
70 foram de luta pela "liberdade".
Que algum dia se comece efetivamente a luta pela "igualdade". E já
está passando da hora.
Os anistiados de ontem viraram os
poderosos de hoje. E têm uma dívida
com as suas idéias e sua própria história, com os que lutaram por sua
anistia e com o país que querem para
seus filhos: a responsabilidade de
realmente lutar pela igualdade.
Vinte e cinco anos depois, seria o
momento de comemorar o grande
passo que foi a anistia. Mas, com os
mortos das ruas de São Paulo, ainda
temos muito a chorar.
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