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CARLOS HEITOR CONY
Olga
RIO DE JANEIRO - Ainda não vi a última produção cinematográfica nacional, talvez a mais badalada de todos os tempos. Admiro e respeito o
trabalho de Fernando Morais e Jayme Monjardim, com quem aliás já
trabalhei e considero o "melhor olho"
do nosso cinema.
Alguns críticos estão reclamando
do filme pela falta de rigor histórico
da produção, embora o texto em que
se baseou (o livro de Fernando) seja
de primeiríssima qualidade.
Há tempos, na falecida Rede Manchete, em parceria com outros autores (Adolpho Bloch e Wilson Aguiar
Filho), escrevemos uma novela ("Kananga do Japão"), que acompanhava os acontecimentos nacionais de
1929 a 1939. No miolo da novela figurava uma minissérie dedicada a Olga, interpretada por Betina Vianny.
O episódio ficou três semanas no ar.
Tanto Wilson Aguiar Filho como eu
também nos baseamos, entre outras
fontes, no fabuloso livro do Fernando
Morais.
Luís Carlos Prestes estava vivo e me
telefonava, às vezes corrigindo algum
detalhe, outras elogiando a solução
que havíamos encontrado para os
pontos mortos daquele drama, que
eram muitos, por sinal.
A verdadeira história de Olga, segundo as pesquisas de William
Waack na Alemanha e na antiga
União Soviética, difere e tem mesmo
um outro sentido, bem diverso daquele que foi aceito pela história romantizada de um episódio realmente
novelesco. Olga foi, acima de tudo,
uma profissional engajada num processo político, recebeu uma missão e
cumpriu-a da melhor forma possível,
pagando o preço por ela.
Entre a lenda e a realidade, o romance e o cinema sempre ficarão
com a lenda. As peças de Shakespeare
(os Henriques todos, o 2º, o 3º, o 4º, o
5º e o 6º) estão mais voltadas para a
lenda do que para a história. Teatro e
cinema são criações autônomas e
dão melhor recado quando se afastam da realidade e penetram no maravilhoso universo da lenda.
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