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EXEMPLO PROBLEMÁTICO
Nem mesmo o México, tido por
muitos como o país de economia mais sólida na América Latina
graças a sua integração com os EUA,
escapa de sofrer bastante com o contexto internacional adverso. Depois
de cair 0,3% em 2001, a economia
mexicana segue fraca em 2002: projeta-se que cresça 1,6%, taxa similar à
esperada para o Brasil.
Mesmo muito menos dramáticas
que as da Argentina ou da Venezuela,
as dificuldades do México chamam a
atenção porque sua opção de aprofundar radicalmente a integração
com os EUA é apontada como exemplo a ser seguido pelo Brasil.
Alguns dos defensores da adesão
do Brasil à Alca enfatizam os benefícios que o Nafta (o acordo de livre comércio com os EUA e o Canadá firmado há quase dez anos) trouxe ao
México, com destaque para a imensa
expansão das exportações, sobretudo das dirigidas aos EUA.
Como expandir as exportações se
tornou prioridade no Brasil, é natural
que o exemplo mexicano pareça tentador. Mas cabe observar que o salto
das exportações não garantiu à economia mexicana um ritmo de crescimento alto nem deu solidez às suas
contas externas. Apesar de ter-se beneficiado do forte crescimento dos
EUA de 1992 a 2000, o México cresceu 3% ao ano na década de 1990. E
seu déficit em transações correntes
caminha para fechar 2002 em US$ 17
bilhões -valor similar ao do Brasil.
Além desses aspectos menos
atraentes da experiência mexicana,
há que lembrar diferenças entre a sua
economia e a do Brasil. A mais evidente é geográfica: a vizinhança dá
aos bens mexicanos grande vantagem competitiva nos EUA (sobretudo nos ramos em que os custos de
frete pesam muito no preço final).
Outra diferença diz respeito ao
grau de integração comercial com os
EUA. Antes do Nafta, o México já
destinava a maioria de suas exportações aos EUA; o Nafta aprofundou
essa integração, elevando o peso dos
EUA nas exportações mexicanas para a casa de 80%. No Brasil, hoje, essa proporção é 25%.
O Brasil comercia intensamente
com todas as regiões do globo. Por
isso, aderir à Alca implicaria dar
prioridade a um parceiro comercial
que hoje não é preponderante, sacrificando possibilidades de comércio
com outros parceiros importantes,
como a Europa e a Ásia.
Esses aspectos sugerem que há espaços de complementaridade com a
estrutura produtiva dos EUA que já
foram ocupados pelo México. Mesmo que fossem beneficiados por
uma redução de barreiras, os bens
brasileiros teriam dificuldade para
tomar nichos de mercado dos mexicanos. Ao lado disso, diversos ramos
da estrutura produtiva brasileira, sobretudo na indústria, tenderiam a ser
ameaçados pela maior concorrência
com os produtos dos EUA.
Os cuidados na negociação da Alca
têm de ser grandes. A fragilidade das
contas externas enfraquece a posição
negociadora brasileira. Seria lamentável que isso levasse a priorizar ganhos de curto prazo em troca de concessões que podem ter alto custo
num horizonte mais longo.
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