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CLÓVIS ROSSI
Uma boa cara não basta
CARACAS - A explicação mais frequente quando pergunto como o presidente Hugo Chávez mantém sua popularidade com os setores mais pobres (a maioria dos 23 milhões de venezuelanos) é a de que ele é a cara do
povo local.
Conversar com seus partidários remete a uma afirmação comum entre
os simpatizantes do presidente chileno Salvador Allende, deposto em
1973 (preferiu o suicídio à rendição
aos golpistas). Diziam: "Este pode ser
um governo de merda, mas é MEU
governo".
Parte do público venezuelano
transmite essa mesma impressão de
que o presidente lhes pertence. Citei a
Chávez a frase dos chilenos e perguntei-lhe se, de alguma forma, não estaria ocorrendo o mesmo na Venezuela
com ele.
Não gostou, é claro. "Te convido a
ir aonde quiser e a perguntar às pessoas se este é um governo de merda.
Deixe que eles te digam", respondeu.
Não disseram. Mas é evidente que
há uma crise econômica e política
forte, que o desemprego aumentou.
Até a pobreza cresceu segundo dados
da Universidade Católica Andrés Bello. Chávez contesta-os e usa números do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas)
para tentar provar que são falsos.
Talvez, mas ele é obrigado a conceder que sua popularidade caiu, menos do que diz a oposição, mas caiu.
Alega que, após três anos, quase
quatro, de governo, todo governante
perde popularidade. Não é bem assim -do que dão prova inúmeros
chefes de governo mundo afora.
Seja como for, o fato de uma parcela significativa dos venezuelanos
identificar-se com Chávez remete a
Luiz Inácio Lula da Silva, que seria,
conforme muitas análises, a cara do
povo brasileiro, razão da idolatria de
que passou a gozar pouco antes e depois da eleição.
Se é assim, o exemplo de Hugo Chávez mostra que essa identificação pode ser ótima para começar a governar, mas tem limites razoavelmente
estreitos.
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