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VINICIUS MOTA
As carpideiras do capitalismo
SÃO PAULO - Técnicos do Congresso americano fizeram feitiçaria
econométrica e concluíram que deve sair por US$ 25 bilhões o mais
novo pacote do governo Bush para
tentar salvar a economia. O alvo da
operação são duas gigantescas
agências de garantia de hipotecas,
que estão grogues e ameaçam ir à
lona, o que seria um terremoto de
alto poder destrutivo. Nos EUA, o
crédito imobiliário total é de US$ 15
trilhões, mais que o PIB do país.
Foi-se o tempo em que estavam
sob ataque só dívidas "subprime", o
dinheiro oferecido a qualquer um
que deixasse cair o RG na porta do
banco. A crise ameaça a típica família americana. Como a torta de maçã, tomar recursos para comprar a
casa ajardinada no subúrbio é uma
instituição nacional nos EUA.
A conexão do atoleiro americano
com a economia mundial tampouco continua restrita aos fundos
"hedge", a vanguarda da especulação global que adquiria bugigangas
financeiras derivadas do "subprime". Papéis das empresas hipotecárias ora na berlinda eram tão estimados por aplicadores conservadores estrangeiros, governos entre
eles, quanto os do Tesouro americano, considerados os mais seguros.
Um colapso no coração do mercado hipotecário americano, portanto, produziria graves ondas de
devastação econômica, dentro e fora dos EUA. Que a Casa Branca se
disponha a gastar o que for para evitar o pior é apenas um sinal de que a
irresponsabilidade ainda não atingiu todos os setores da gestão Bush.
Mas persistem os uivos nostálgicos da vertente idílica do liberalismo atropelada pela crise de 1929.
Seus arautos choram, em tom de
carpideira, como se estivessem sobre o cadáver do capitalismo. Não
entendem que intervir em momentos de aflição econômica é um dever
do Estado capitalista moderno. Ou
age assim ou desmoraliza o sistema
aos olhos da massa dos cidadãos,
sobre a qual recairia carga insuportável, e desnecessária, de penúria.
vinimota@folhasp.com.br
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