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MELCHIADES FILHO
Polícia desmontada
BRASÍLIA - A Operação Satiagraha pilhou Daniel Dantas, atingiu a
ante-sala de Lula, pôs em risco o
maior negócio em gestação pelo governo no segundo mandato e identificou um esquema de leva-e-traz
de divisas que remonta sabe-se lá a
quando (e a quanto). Mas, por enquanto, o golpe mais incisivo da Polícia Federal foi contra si própria.
Ao revelar que sonegou informações da chefia, que gravou conversas com os superiores para se proteger, que foi espionado por colegas e
que achou melhor formar um grupo
de apoio com gente da Abin, Protógenes Queiroz não só expôs de maneira inédita as divisões internas da
corporação como arranhou a imagem "republicana" que o órgão
construiu meticulosamente nos
quatro anos iniciais de Lula.
Justa ou não, a mensagem do delegado foi clara: não se deve confiar
no primeiro escalão da polícia.
É um erro atribuir à varredura
contra Daniel Dantas & Associados
a origem da luta entre facções na
PF. E reducionismo dizer que a corporação está dividida em duas alas,
tentando dar contornos partidários
ou ideológicos à fratura.
Basta lembrar a sucessão do diretor-geral Paulo Lacerda, em 2007.
Três grupos sentiram-se fortes no
governo petista para pleitear o cargo -nenhum deles associado a
quem mandava na era tucana. Tão
sangrenta foi a disputa que a Operação Octopus só decolou (e, com ela,
o escândalo Gautama) porque ajudou a incinerar um dos candidatos.
Se o caldo entornou na PF neste
ano, não foi só por causa de Dantas,
mas da incapacidade (ou do desinteresse) de Tarso Genro de manter
intramuros essa guerra. Não por
outro motivo, o antecessor foi chamado a Brasília para palpitar.
Márcio Thomaz Bastos, porém,
está ocupado com outro cliente encrencado (Eike Batista) e pouco poderá fazer desta vez. Para desmentir Protógenes e remendar a reputação, a cúpula da PF terá de abraçar e aprofundar o trabalho do delegado que a denunciou.
mfilho@folhasp.com.br
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