|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A REDE COMO ELA É
Repetir o óbvio ululante é
exasperador, mas os indicadores mais recentes sobre a população
mundial de usuários da internet tornam inevitável a constatação de que
nada escapa aos limites impostos pela má distribuição de renda.
O Brasil, que se destaca internacionalmente por suas experiências exitosas no campo das novas tecnologias de informação e comunicação, é
ainda retardatário quando o assunto
é acesso, ou seja, inclusão social.
O país desperta admiração em todo
o mundo pelo sucesso de sua rede de
automação bancária, pelo volume de
impostos que são pagos pela internet, pela qualidade do sistema de urnas eleitorais digitais e pela criatividade de seus inúmeros projetos e
programas de inclusão digital.
A riqueza dessa constelação de iniciativas que envolvem uma das mais
avançadas tecnologias contemporâneas contrasta, no entanto, violentamente com os números relativos à
qualidade da participação dos cidadãos na rede mundial.
A população mundial de internautas alcançou 591,6 milhões de pessoas no final de 2002 de acordo com
a Unctad (Conferência das Nações
Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) e a ITU (União Internacional das Telecomunicações). Houve um crescimento de 27,2% em relação a 2001. É portanto, apesar da crise global, um setor ainda dinâmico.
O Brasil, que figura no relatório
com 14,3 milhões de internautas, fica
em 11º lugar do mundo em número
de usuários da rede. Considerados
não os números absolutos, mas o
acesso digital, o país cai para a 65ª
colocação. O método usado para definir "acesso digital" é o da composição de vários indicadores: infra-estrutura, preço, nível de instrução,
qualidade e número de usuários.
Nessa visão, o Brasil perde para Jamaica, Argentina, Uruguai e Chile.
O custo tanto das linhas telefônicas
como dos serviços de acesso à rede
são ainda elevados no país. Como o
perfil brasileiro de distribuição de
renda é um dos piores do mundo, essa barreira de custos torna-se por ora
intransponível.
A mesma realidade tem sido observada em outras áreas cruciais de
acesso em grande escala à informação, como a televisão a cabo, educação de qualidade e entretenimento:
no Brasil, predomina a exclusão.
A rede imita a vida. O país rico de
população pobre e desigualdade extrema corre o risco de perder o trem,
ou a infovia, da história.
Texto Anterior: Editoriais: CRIME E CASTIGO Próximo Texto: Miami - Clóvis Rossi: A caixa de Pandora Índice
|