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CLÓVIS ROSSI
A caixa de Pandora
MIAMI - A ocupação norte-americana do Iraque tinha como objetivo, entre
outros, levar a guerra ao terrorismo a
um de seus supostos epicentros e, por
extensão, tornar o mundo mais seguro.
Deu exatamente o inverso. O terrorismo é que levou a sua guerra ao coração de italianos, britânicos e turcos,
para não falar de outras tribos colhidas no meio dessa tremenda insanidade e à espera de que novos países ou
nacionalidades sejam atingidos. O
próprio governo norte-americano
alertou, na sexta-feira, sobre a iminente possibilidade de repetição de
atentados tão cruentos como o da véspera na Turquia.
O pior é que contra esse gênero de
crime não há prevenção possível. O
pressuposto racional é o de que o criminoso procura escapar com vida do
crime que comete, para saborear os
seus frutos, sejam quais forem. Quando alguém viola essa racionalidade e
se dispõe a matar e morrer no mesmo
ato, que defesa é possível?
Além disso, multiplicou-se praticamente ao infinito a quantidade de alvos disponíveis. Basta examinar um
pouquinho as razões pelas quais se supõe que a Turquia tenha sido o alvo
mais recente da violência: diz-se que é
porque se trata de um país de maioria
muçulmana, mas que colabora intensamente com o Ocidente, ainda que a
maioria de sua população tenha se
manifestado contra a invasão do Iraque.
Bom, há um punhado de países de
maioria muçulmana cujos governos
cooperam com o Ocidente, a começar
do maior deles, a Indonésia, no qual,
de resto, já há uma facção extremista
praticando atos terroristas. Quantos
bancos ou outros símbolos quaisquer
britânicos, espanhóis ou norte-americanos existem nesses países para servirem de alvo como ocorreu em Istambul? É impossível vigiá-los todos.
O que se fez, portanto, foi disseminar a insegurança. Pior ainda: não
dá mais para gritar vitória e sair correndo do Iraque e do Afeganistão, na
expectativa de que o terrorismo cesse.
Não vai ser nada fácil fechar a caixa
de Pandora.
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