|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O arroz e o morango
SÃO PAULO - Interessante e instigante a tremenda coincidência de
conceitos entre a entrevista que
Sérgio Dávila fez com o jornalista
norte-americano Paul Roberts e a
conversa que tive com um executivo brasileiro, na semana passada, e
rendeu o título "Não há arroz para
todos". A propósito, fui liberado para dizer que o executivo é Fabio
Barbosa, presidente do ABN-Amro
e que está assumindo idêntica função no Santander.
A coincidência vai até o detalhe:
Barbosa falou no arroz como símbolo de uma porção de produtos;
Roberts usou o morango. Lembrou
que seu filho acostumou-se a comer
morango todos os 12 meses do ano,
embora a fruta não esteja disponível o ano inteiro nos Estados Unidos. Com a ascensão à classe média
de largas fatias da população de países como China, Índia e Brasil, não
haverá qualidade e quantidade que
chegue para tanta gente. "É o fim do
morango 12 meses por ano", decretou na entrevista.
Pode-se olhar a coincidência com
otimismo, por mostrar a tomada de
consciência entre um executivo de
banco que olha o mundo do 3º andar de uma avenida Paulista que é a
quintessência do, digamos, "morango 12 meses por ano", e um jornalista do Estado de Washington,
berço da Starbucks, a rede de cafeterias de um país que não produz
café, mas o consome 12, até 13 meses por ano, se houvesse.
Dessa consciência emerge a seguinte frase de Roberts: "Não
adianta falarmos que queremos que
o governo, a ONU, seja quem for, resolva o problema, desde que nós
possamos continuar tendo 2,5 carros, como é a média nos EUA, e
comprando TV de tela de plasma".
De acordo, Roberts. De acordo,
Fabio. Mas alguém aí acredita que
uma fatia ponderável da humanidade aceitará deixar de comer morango 12 meses ao ano (e morango é
apenas um símbolo de todo o resto)
em plena era do triunfo avassalador
do individualismo?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Sindicalismo de resultados
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Apertem os cintos, o general sumiu Índice
|