|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
ELIANE CANTANHÊDE
Apertem os cintos, o general sumiu
BRASÍLIA - Desde os anos 1980
não se ouve gente xingando o Exército e jogando pedras em militares,
coisa que o tenente Vinícius Ghidetti e seus dez comandados reavivaram agora no Rio ao entregarem
três rapazes para traficantes e para
a morte. E cadê o comandante Militar do Leste, general Luiz Cesário
da Silveira Filho? Está de férias na
Europa e só volta amanhã, quando
tudo estiver serenando.
O Comando Militar do Leste
(CML) é um dos quatro do país.
Abrange Rio, Minas e Espírito Santo e, como é o que convive mais diretamente com a violência urbana,
para lá se voltam holofotes e dúvidas quando se discute ampliar ou
não a participação das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem. Seu general tinha o direito de
tirar férias, como qualquer mortal,
mas não de se manter a um oceano
de distância da crise.
Quem deu as caras e emprestou a
voz para falar pelo Exército no primeiro momento foi um coronel, para perplexidade de um punhado de
generais. Como o CML tinha resistido à idéia de subir o morro, alertando para possíveis "efeitos colaterais" -como o risco de confronto
com civis-, a ausência do general
Cesário gerou uma dúvida: ele tinha
sumido na base do "eu não avisei?",
ou simplesmente não quis interromper as férias? Foi retaliação ou
pura omissão?
O crime começou quando o tenente deu de ombros para a ordem
do seu superior imediato, um capitão, de que soltasse os três presos.
Em vez de soltar, entregou os rapazes às feras que os estraçalhariam.
Se um tenente de 25 anos se sente
à vontade para desobedecer a ordem de seu capitão; se o capitão dá
ordens que um tenente de 25 anos
desobedece; se há suspeitas de envolvimento de militares com o tráfico; se o comandante viajando estava e viajando continuou, há algo
de podre no reino do Comando Militar do Leste. E, se é assim, o mais
seguro é ficar bem longe dos morros. Lá no Haiti, por exemplo.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O arroz e o morango Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Dia perfeito para o homem banana Índice
|