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CARLOS HEITOR CONY
Dia perfeito para o homem banana
RIO DE JANEIRO - Um daqueles
dias em que há a sensação de que
não se deve sair de casa, nem da cama. Tudo começa com o telefonema do editor de uma revista reclamando o texto que ainda não teve
tempo de escrever. Promete mandar mais tarde. E outro telefonema
informa que a secretária torceu o
pé, está no Miguel Couto, não irá
trabalhar.
No caminho para o escritório, um
acidente entre três carros provoca
um baita engarrafamento na rua
Voluntários da Pátria. Há um morto na calçada, coberto por um plástico azul, mas ainda sem a vela acesa que geralmente aparece nessas
ocasiões. Chega atrasado à entrevista marcada com dois estudantes
de um curso de letras. Querem saber, entre outras coisas, se prefere
Machado de Assis ou Guimarães
Rosa. Ele prefere Lima Barreto.
Duas horas da tarde, ainda sem
ter almoçado, encomenda dois pastéis de queijo e um caldo de cana
-que costumam ser a refeição em
dias em que não há tempo nem vontade de encarar um restaurante. Os
pastéis vêm gelados, e o caldo de cana, quente. Dispensa os dois e fica
na xícara de café bem forte. Estourado, termina o expediente com
uma dor de cabeça, dessas de arrasar quarteirão.
Vai à mesa da secretária e descobre na agenda dela que há ainda um
compromisso, palestra de um amigo sobre o meio ambiente e o aquecimento do planeta - passa-lhe um
e-mail informando que o aquecimento da Terra e a preocupação
com a ecologia provocaram nele
tremenda dor de cabeça. Diz que
sente muito e se declara solidário
com a cruzada por um mundo
melhor.
Em casa, toma um comprimido
que promete fazer a dor sumir e pega um livro de contos de J.D. Sallinger. Lê o "Dia Perfeito para o Peixe-banana" e descobre que teve um dia
perfeito para um homem banana.
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