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JUROS POLÍTICOS
O tratamento de choque
adotado pelo Copom (Comitê
de Política Monetária) ao elevar a taxa
de juros Selic em meio ponto percentual na semana passada atesta a determinação da equipe do Banco Central no cumprimento das metas de
inflação. Os mercados financeiros
nacionais e internacionais comemoraram o aumento potencial de seus
lucros, já bastante elevados.
A decisão, no entanto, faz pouco
sentido no momento em que os
principais índices de inflação apresentam tendência de queda, a recuperação de renda permanece bastante incipiente para desencadear pressões inflacionárias generalizadas e
há sinais de desaceleração industrial
e nas vendas do comércio varejista,
além de risco de desaquecimento da
economia mundial.
A decisão do BC, embora possa ter
justificativas compatíveis com seus
modelos teóricos, parece associada
com o ciclo político, ou seja, com o
projeto do PT de permanecer no poder para além de 2006. Com o crescimento de 2004 garantido, o Copom
prefere adequar o crescimento no
ano que vem a um ritmo mais lento,
que permita maior margem de manobra em 2006. Possíveis repasses de
preços nos setores que operam a plena capacidade produtiva tendem a
ser contidos. Com isso procura-se
assegurar o cumprimento da ambiciosa meta de inflação de 2005
(5,1%), criando condições para que
as rédeas da economia no ano eleitoral de 2006 possam ser afrouxadas.
Se esse cálculo político faz sentido,
a relação custo/benefício da política
monetária restritiva parece negativa.
Procura-se alcançar uma redução de
meio ponto percentual na taxa de inflação, desencadeando uma queda
mais acentuada no PIB, que poderá
recuar para cerca de 3,5% em 2005,
com conseqüências indesejáveis para o setor produtivo e o emprego.
A recuperação econômica recente
foi liderada inicialmente pelas exportações e, a seguir, ganhou dinamismo com a expansão do crédito doméstico. As exportações devem se
desacelerar com a queda nos preços
das commodities exportadas pelo
país. Já uma taxa de juros real (descontada a inflação) de 9,97% ao ano e
com tendência de alta certamente irá
encarecer o crédito ao consumidor.
Assim, os dois vetores da expansão
econômica devem se enfraquecer.
Com isso, podem-se deteriorar as expectativas de ampliação da capacidade produtiva, com os empresários recuando da decisão de investir.
Além disso, o Tesouro terá um gasto adicional estimado em R$ 2 bilhões com a dívida pública indexada
à taxa Selic. Isso pode implicar mais
superávit fiscal e comprometer os
parcos investimentos em recuperação da infra-estrutura. Portanto,
além de afetar o ritmo de expansão
da demanda, que já emitia sinais de
desaceleração, as decisões do Copom poderão atingir fatores cruciais
para a sustentação de uma dinâmica
de crescimento econômico mais vigoroso e contínuo.
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