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CLÓVIS ROSSI
Salário, medo e esperança
LISBOA - Lembra-se dos primeiros muitos meses do atual governo,
quando o presidente da República
pedia paciência e dizia que uma
criança leva nove meses para nascer,
um ano mais ou menos para começar
a andar e a falar alguma coisa?
Pois é. O governo Luiz Inácio Lula
da Silva está prestes a completar dois
anos, idade suficiente para ter nascido e começado a falar e a andar. Mas
continua mudo e manco em relação
ao ponto que, em tese, seria o central
para um Partido dos Trabalhadores:
a renda do trabalhador.
A renda média do assalariado brasileiro, em termos reais (ou seja, descontada a inflação), é hoje R$ 122,82
inferior à que era em setembro de
2002, às vésperas da eleição em que,
supostamente, a esperança venceria
o medo. Perdeu, se por esperança se
entender melhoria no salário.
Pior: vai continuar perdendo, a julgar pelas análises de Lauro Ramos,
coordenador de Estudos de Mercado
do Trabalho do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada.
Depois de lembrar que a renda do
trabalhador caiu mais de 13% no ano
passado, na comparação com 2002,
Ramos afirmou: "Foi uma queda
brutal e vai demorar muito para voltar aos patamares de 2002".
Os petistas dirão que a culpa é da
"herança maldita". Em parte é até
verdade. Mas passou tempo demais
para culpar apenas o passado. Basta
ler o que escreveu ontem para esta
Folha Claudio Salvadori Dedecca,
professor e pesquisador do Centro de
Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho da Unicamp.
Depois de lembrar que crescimento
mais acelerado é condição essencial
para o mercado de trabalho, Dedecca diz que "a questão do emprego
não tem sido uma prioridade da política econômica. Caso isso tivesse
ocorrido, seus gestores já teriam percebido a insuficiência do crescimento
por eles imposto à nação e teriam
alargado seu campo de ações para
além da política monetária".
Ou seja, mais medo, menos esperança à vista.
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