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CLÓVIS ROSSI
A imaginação ao poder
BRUXELAS - No relatório da comissão do Congresso norte-americano
que investigou os atentados de 11 de
setembro de 2001 há uma expressão
("failure of imagination" ou fracasso
da imaginação) que poderia ser usada tranqüilamente para o Brasil dos
dias que correm.
Lá, além de erros operacionais, a
falha básica se deveu ao fato de que
os Estados Unidos ainda estão (estavam, pelo menos) imaginando que a
guerra era a guerra fria contra o comunismo, ganha uns 15 anos antes.
Não tinham, por isso, "imaginação"
para a nova guerra (contra o terrorismo), imensamente mais complicada
porque o outro lado não quer ganhar; quer só aterrorizar.
Aqui também uma fatia imensa da
mídia, da academia e do mundo político ainda luta a Guerra Fria. É por
isso que há um coro formidável para
dizer que a política econômica está
dando certo ou já deu certo.
O subtexto é óbvio: o temor de que,
se houver sinais de que algo não está
dando certo, o PT estatiza o sistema
financeiro, desapropria todos os latifúndios, produtivos ou não, dá o calote nas dívidas interna e externa e
por aí vai.
Claro que estou caricaturando, mas
não muito.
Fora os rentistas, os únicos verdadeiros beneficiários da política em vigor, como já demonstrou Luís Nassif
dias atrás, não há como explicar o
medo a discutir alternativas.
Alguém acredita a sério que crescimento econômico, ainda por cima
moderado, basta para um país com
os problemas estruturais e sociais do
Brasil? O próprio ministro Antonio
Palocci já disse que não acredita.
Quanto se fala de alternativas, não
se está falando de socialismo, comunismo nem mesmo do cooperativismo (com todo o respeito) que o presidente Lula defendeu faz pouco.
O que é preciso é exatamente o que
está no relatório da comissão do 11-S,
para não falar de uma canção dos
Beatles: imaginação.
A falta dela causou, nos EUA, 2.973
mortes. No Brasil, deve causar muitas mais todos os dias, e não apenas
em um 11 de setembro.
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