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ELIANE CANTANHÊDE
Fortes e fracos
BRASÍLIA - O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) reclama
com certa razão que, quando o Brasil
negocia com Argentina, Paraguai e
Uruguai, todo mundo exige que seja
duro e bata na mesa. Já quando é
com os EUA e com a União Européia,
a cobrança é ao contrário: para ser
dócil, comedido e "realista".
Em resumo: o que se exige é que o
Brasil seja forte diante dos mais fracos e fraco diante dos mais fortes.
Mas isso é fácil. Difícil é fazer o oposto.
Sob esse princípio, Lulinha, Celsinho e Marquinho (o assessor internacional da Presidência) foram todos
paz e amor quando a Argentina chutou a canela, exigindo cotas para geladeiras, fogões e lavadoras brasileiras. Nenhum deles enfrentou de cara
os portenhos e afins. As declarações
foram de uma leveza rara.
A "diplomacia pró-ativa", ou seja,
da canelada, só entrou em campo
contra americanos e europeus quando o Brasil liderou: 1) a criação do G-20 (atual G-X) na Organização Mundial do Comércio, a OMC; 2) o impasse com os EUA na Alca, que era
prevista para janeiro de 2005, mas
ninguém fala mais nisso; 3) a suspensão do acordo Mercosul-União Européia, que seria fechado em outubro,
mas está cheio de interrogações.
Como é muito difícil prever o que
essa braveza toda vai render ao país e
ao Mercosul em termos práticos,
criou-se uma torcida "ame-o ou deixe-o" para Amorim; endeusado por
uns, demonizado por outros.
O mais prudente, porém, é não endeusar nem demonizar. Apenas admitir que a diplomacia brasileira tem
um rumo ousado -portanto, arriscado. Pode ou não dar certo. Talvez
não seja pragmático, mas não deixa
de lavar a alma ver que é possível ser
mais dócil com países como a Argentina e dizer "não" para EUA e UE.
De Amorim: "Que ninguém pense
que nós estamos desesperados por
um acordo. Nós queremos um acordo, sim, mas não a qualquer custo".
Falou da UE, mas vale para a Alca.
Ou seja: os acordos vão sair, mas há
que batalhar pelos interesses do Brasil e da região. Os negociadores, aliás,
são pagos exatamente para isso.
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