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CLÓVIS ROSSI
Independência e solidão
SÃO PAULO - É dura a vida de jornais e de jornalistas que tentam ser
independentes. Ninguém acredita.
Anos atrás, um bom amigo meu,
que me conhece o suficiente para saber que não tenho carteirinha de partido nenhum nem sou fã incondicional de candidato nenhum (então como agora), já dizia: "Como a Folha não tem candidato, se todos têm?".
Eleição após eleição, a história se
repete. "Tucanos" acham a Folha petista, rótulo que estendem, inexoravelmente, a quem põe a cara para bater assinando textos no jornal.
Petistas dizem, ao contrário, que a
Folha está com José Serra. Ciro Gomes acusou o jornal de governismo
na sabatina da semana passada.
Anthony Garotinho conseguiu a
mágica de acreditar que a Folha
apóia a um só tempo José Serra e Lula, sem levar em conta que o campeonato eleitoral só permite um ganhador, o que significa que, ou se apóia
Lula para derrotar Serra, ou se apóia
Serra para derrotar Lula, ou se corre
o risco de perder com ambos.
Mas o mais grave nessa batalha pela independência nem é a incompreensão. É a solidão. Hoje por hoje,
até que o restante da mídia soltou razoavelmente suas amarras. Problemas ainda existem, às vezes graves,
mas nada que se compare às canalhices praticadas, por exemplo, na campanha de 1989.
A solidão se dá em relação aos analistas, aos acadêmicos. É quase impossível conseguir conversar com algum especialista sem temer que suas
opiniões estejam enviesadas por preferências eleitorais ou, pior, por preconceitos contra um candidato.
Nos Estados Unidos, o Serviço de
Pesquisa do Congresso produz magníficos dossiês sobre os mais diferentes temas, internos e externos, com
uma linha inviolável (sob pena de
demissão): não pode ter viés pró-republicano ou pró-democrata.
Ajudaria muito o próprio candidato se pudesse ter a segurança de que
palpites externos dizem respeito à
realidade, não à preferência (ou preconceito) eleitoral do analista.
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