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ELIANE CANTANHÊDE
O Lulinha paz e amor
BRASÍLIA - Perguntaram ao novo Lula, em Rio Branco (AC), sobre a
troca de desaforos entre José Serra e
Ciro Gomes. Ele respondeu que isso
era problema dos dois e que estava
fora: "Lulinha quer paz e amor".
Parece apenas mais uma saída
bem-humorada de Lula diante do
mau humor crônico de Ciro e do mau
humor disfarçado de Serra na campanha. Mas é bem mais do que isso. É
a essência da tática petista para passar docemente pelo primeiro turno e
reunir cacos, mágoas, iras e dissidentes alheios no segundo.
Quanto mais Serra diz que Ciro é
mentiroso e destemperado, mais Lula
se afirma. Quanto mais Ciro chama
os outros de "burros", "podres", "pilantras" e manda o mercado "se lixar", mais Lula ri. Ri e fecha a boca,
para não repetir os erros do início do
semestre, quando falou uma bobagem atrás da outra. Agora é hora de
os adversários falarem bobagens. De
preferência um contra o outro.
Lula está na quarta eleição para
presidente -quarta e última. É agora ou nunca. As circunstâncias, a
maturidade do PT, a experiência em
campanhas, uma pitada de humildade e montes de pragmatismo vêm
dando certo. As condições são favoráveis a Lula desta vez.
Isso, é claro, não significa que a vitória de Lula esteja escrita nas estrelas, nem mesmo nas estrelas do PT.
Mas, do jeito que as coisas vão, Garotinho bateu no teto, Serra não anda,
só patina, e Ciro chega à reta final do
primeiro turno mostrando uma mistura de destempero pessoal com desarrumação política da campanha.
A chance de Lula, que tem maior
rejeição, é Ciro ser tragado pelos próprios erros. A chance de Ciro é ser um
candidato melhor do que a própria
candidatura, com a grande maioria
do eleitorado pobre e mal informado
não percebendo o que os mais escolarizados começam a rejeitar.
Os holofotes, portanto, continuam
em Ciro: ou ele mingua ou, ao contrário, vira um rolo compressor sobre
tudo, todos e Lula. Que não tem muito o que fazer, a não ser ficar bem
quieto e ser o Lulinha paz e amor.
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