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CARLOS HEITOR CONY
Caras e bocas
RIO DE JANEIRO - Os outros devem estar certos. Eu é que estou errado,
como sempre. Na última semana,
passei de carro por três capitais brasileiras: Porto Alegre, Curitiba e Rio.
Fiquei impressionado com a poluição
dos cartazes que divulgam o sorriso e
as boas intenções dos candidatos.
Bem verdade que a bagunça visual
foi pior no tempo das faixas e pichações. A coisa está mais ou menos disciplinada, mas não há poste, do Prata ao Amazonas, que não pareça um
espetinho desses em que se servem pedaços de frango, alcatra e porco nas
churrascarias.
Nem dá tempo de a gente tomar conhecimento da oferta, mais abundante do que a procura. Os cartazes,
padronizados, pouco diferem uns dos
outros. E, além dos galhardetes, que
devem custar caro aos candidatos, há
os outdoors imensos, com enormes
caras e bocas, todas sorrindo, sorrindo de quê?
Eis um mistério. Quando aparecem
na TV estão furiosos, indignados,
ameaçam devassas, botar os ladrões
na cadeia, mas, nos cartazes, sorriem
com dentes impecavelmente limpos.
Mais que propagandas de si próprios,
parecem propagandas de pasta dental.
Reconheço que não tenho nenhuma alternativa a apresentar aos candidatos e à Justiça Eleitoral. Mesmo
assim não aprecio o espetáculo. Acho
que a criatividade humana, que inventou a bomba atômica e os perus
congelados com aquele termômetro
dentro do peito para regular o tempo
de forno, bem que poderia descobrir
um recurso menos feio e mais eficiente para divulgar os pretendentes à vida pública.
Já me disseram -não sei se é verdade- que a mania dos cartazes começou no faroeste, quando os xerifes
mandavam colocar nos "saloons" a
cara dos criminosos e a oferta em dólares por informações a respeito.
Deve ser qualquer coisa por aí. E
podemos nos rejubilar, pois, ao contrário do faroeste, os cartazes pretendem mostrar os melhores que nos
prometem melhores dias.
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