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VALDO CRUZ
Tiro no pé
BRASÍLIA - Empresários e diplomatas que chegaram da Europa nos últimos dias trouxeram na bagagem relatos do velho continente que deveriam merecer um pouco de atenção
do governo FHC. Versam sobre o discurso preferido do momento: o risco
de argentinização do Brasil.
O conteúdo da bagagem será despachado para os gabinetes tucanos.
Caso tenham um mínimo de autocrítica e um pouco de responsabilidade,
vão perceber que estão errando na
dose do terrorismo eleitoral.
FHC, Malan, Armínio, José Serra e
seus asseclas estão repetindo com
tanto fervor que o Brasil pode se
transformar na Argentina que, entre
empresários e acadêmicos europeus,
cresce a sensação de que estamos bem
perto do caos do vizinho.
E que o contágio final pode não
aguardar uma eleição do petista Luiz
Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Pode ocorrer antes,
diante das fragilidades da economia
brasileira. Tudo isso foi ouvido nas
últimas semanas na França, na Alemanha e na Inglaterra.
O que esse tipo de percepção gera é
muita incerteza. O dólar sobe, o investidor estrangeiro se retrai, aumentam as remessas de lucros para o exterior. Aí os juros não caem, a economia desaquece, o desemprego aumenta e a popularidade do governo
tucano despenca.
Traduzindo: o discurso usado para
combater o avanço petista nas pesquisas está criando um ciclo de insegurança que, no final, vai fragilizar
também a candidatura de Serra.
O que assustou a um dos viajantes é
que, ao ouvir em fóruns europeus que
realmente podemos estar caminhando para a argentinização, nenhum
funcionário brasileiro se deu ao trabalho de defender seu país.
Também pudera. Se os chefes, aqui
no Brasil, ajudam a semear tempestade, por que um burocrata, lá fora,
vai sair pregando o contrário? Tem
gente dando tiro no pé.
Em tempo: alguns poucos auxiliares de FHC vinham fazendo esse alerta. Não estavam sendo ouvidos. Talvez continuem falando ao vento.
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