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ISLÃ E TERROR
"A dolorosa verdade: todos
os terroristas do mundo são
muçulmanos", eis o título do artigo
escrito pelo diretor-geral da rede de
TV Al Arabiya, Abdulrahman al Rashed, publicado pelo jornal pan-árabe
"Asharq al Awsat", após o trágico
desfecho do seqüestro na escola de
Beslan. Este deixou mais de 300 mortos, incluindo muitas crianças.
Em termos concretos, obviamente,
sua afirmação não corresponde à
realidade. O 17 de Novembro grego
ou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ambos de orientação marxista, também cometem
atentados terroristas, muitas vezes
com vítimas. O mesmo ocorre com
os tigres tâmeis do Sri Lanka, ainda
mais sangrentos. Ademais, estes realizam ações suicidas como as que,
freqüentemente, foram protagonizadas por muçulmanos nos últimos
anos. Nenhum dos três é islâmico.
Na verdade, parece que Al Rashed
quis dizer que, no passado recente,
os ataques mais sangrentos foram
perpetrados por muçulmanos e que
a barbárie dos "combatentes da
guerra santa" cresce em ritmo assustador no Iraque, na Tchetchênia, na
Indonésia, no Afeganistão etc.
Contudo é necessário fazer uma
ressalva importante: há grandes diferenças entre grupos terroristas de
orientação islâmica. Ao menos dois
tipos de organização são visíveis: as
apocalípticas e as tradicionais.
Entre as primeiras se destaca a rede
Al Qaeda, de Osama bin Laden, responsável pelo maior ataque da história ao território americano, o 11 de
Setembro, que causou cerca de 3.000
mortes. Também fazem parte dessa
categoria o Tawhid e Jihad, liderado
pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, o homem mais procurado pelas tropas americanas no Iraque, e o
Jemaah Islamiah indonésio, que orquestrou o ataque a uma boate em
Bali, em 2002, matando 202 pessoas.
Os "combatentes da guerra santa"
buscam pôr fim à atual ordem global
para erigir estruturas sociais condizentes com sua interpretação radical
do islã. Sua doutrina é propagada
nas madrassas (escolas religiosas
muçulmanas) paquistanesas ou nos
centros wahabistas sauditas, e seus
métodos começam a ser exportados
para regiões antes mais interessadas
em secessão do que em terror.
Entre as organizações islâmicas
praticantes do terrorismo tradicional
estão, por exemplo, uma miríade de
grupos palestinos, como o Hamas e
o Jihad Islâmico, e o Abu Sayyaf, filipino, cujos objetivos são limitados a
uma região geográfica e, muitas vezes, tem origem no que é visto como
uma "ocupação". No primeiro caso,
a presença de Israel nos territórios
ocupados. No segundo, a filipina na
ilha meridional de Mindanao.
É crucial, no entanto, ressaltar que
tem havido uma perigosa infiltração
de terroristas apocalípticos, cujas redes são transnacionais, em movimentos islâmicos regionais, como o
tchetcheno. A comunidade internacional deve, portanto, buscar a via do
diálogo com organizações cujas aspirações são regionais e concretas
para evitar que sua radicalização torne os conflitos ainda mais intensos.
O exemplo do IRA irlandês é emblemático e mostra que a solução política precisa ser priorizada.
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