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CARLOS HEITOR CONY
Poder pelo poder
RIO DE JANEIRO - Não gostei de saber que a popularidade de Lula caiu
alguns pontos. Vejo com preocupação o desgaste de sua imagem -justamente a imagem que é inédita na
vida nacional e deve ser preservada,
pois se trata da única e saudável garantia da esperança que todos depositamos em seu governo.
Devo estar errado, como sempre,
mas, observando os meses iniciais do
PT no poder, verificamos a confusão
e os conflitos internos do partido, inclusive uma tendência totalitária de
cúpula tão nociva quanto a dos estados maiores que nos governaram durante o regime militar, e podemos
concluir que somente o carisma popular de Lula poderá impedir um novo período de trevas em nossa vida
social e econômica.
Deve ser ingenuidade minha, mas,
contrariando os doutores da política,
acredito na importância da personalidade individual no processo coletivo do crescimento de uma nação.
Desconfio dos colegiados, das assembléias, dos consensos extraídos pelos
fórceps das lideranças legítimas ou
não. O PT, que se considera agora
um gigante, um divisor entre o bem e
o mal, continua sendo um partido
pequeno e problemático, está inchado, como um rosto com caxumba,
uma barriga com oclusão intestinal.
Seu tamanho real é o mesmo. A
eleição de Lula foi um caso pessoal
em nossa vida política, mal comparando, como o do Enéas, que teve votação estrondosa não pelo que ele
pensa ou deseja, mas pelo tipo exótico que formou no imaginário de parte do eleitorado.
O que os adeptos de Enéas pensariam dele e de si mesmos se, de repente, o barbudo deputado se transformasse num Licurgo, num Solon, num
Cícero, num Erasmo?
Com pólos contrários, a mesma suposição pode ser aplicada a Lula.
Quem votou nele, queria ver um presidente diferente, fora do esquadro,
novo e inovador, e não a continuação
de um FHC, cuja preocupação maior
era o poder pelo poder.
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