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DESTRUIÇÃO CULTURAL
Entre os vários crimes cometidos na guerra do Iraque está o
desaparecimento de inestimáveis tesouros arqueológicos que foram
destruídos nos bombardeios ou roubados nos saques que varreram o
país depois da queda de Saddam.
Ainda é cedo para calcular os prejuízos, mas as estimativas mais pessimistas mencionam o número de
170 mil itens aniquilados ou desaparecidos. A região do atual Iraque pode, sem medo de exagero, ser qualificada como o berço da civilização. Por
lá floresceram as civilizações suméria, acádia, assíria e babilônica. Foi lá
que surgiu a primeira escrita. São 10
mil anos de história que podem ter
perdido alguns de seus mais significativos registros. Seria difícil imaginar outro lugar onde uma guerra poderia causar maior destruição para o
patrimônio cultural da humanidade.
Os EUA não podem ser isentados
de culpa. Além de fazer uma guerra
absolutamente desnecessária, deixaram de tomar as providências mínimas para evitar a pilhagem do Museu
Nacional do Iraque, da Biblioteca
Nacional e de vários outros museus e
arquivos, além de sítios arqueológicos. O problema dos saques era tão
previsível que há até informações de
que quadrilhas especializadas em
roubo de obras de arte foram para o
Iraque para participar do butim.
Especialistas em antiguidades alemães lançaram na semana passada
um apelo a governos de todo o mundo para que se cotizassem para pagar
guardas para preservar o que ainda
esteja em museus iraquianos. Lembraram que um guarda pode ser contratado por apenas US$ 3 por dia.
Entre as preciosidades insubstituíveis que já desapareceram está o vaso
Warka, que foi esculpido em alabastro na antiga Suméria mais de 5.000
anos atrás. Trata-se da mais antiga
obra artística conhecida a retratar
uma cena de devoção religiosa: a
deusa Innin recebendo tributo.
Também parece ter-se perdido a
Biblioteca de Sippar, uma coleção de
cerca de 800 tabletes de barro com
escrita cuneiforme babilônica do século 6º a.C. É a mais antiga coleção
de obras encontrada em seu lugar
original. Ela foi escavada em 1986 e
inclui partes do épico "Gilgamesh",
a mais antiga obra literária de fôlego
do mundo, comparável à "Ilíada" de
Homero. Traz também os primeiros
textos científicos de astronomia e
matemática da humanidade, além
do prólogo ao Código de Hammurabi, o primeiro legislador. Boa parte
do acervo da biblioteca não havia sido decifrada nem publicada.
É claro que, diante das perdas humanas provocadas pela guerra, o desaparecimento de tesouros arqueológicos parece um crime menor. Mas
não deixa de ser chocante que Washington e os militares norte-americanos tenham se preocupado, desde
o primeiro dia, em proteger de pilhagem as instalações do Ministério do
Petróleo e deixado à sanha dos saqueadores hospitais, museus e tudo
aquilo que não diga respeito ao tão
cobiçado petróleo.
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