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CLÓVIS ROSSI
A hora do "pró-sociedade"
BUENOS AIRES - Está no ar a nova palavra de ordem da década: equilíbrio fiscal, sim, estabilidade da moeda, também sim, mas equilíbrio social igualmente.
Essa é a idéia que permeia o novo
"Consenso de Washington", conforme já tratado neste espaço a partir do
livro que faz uma revisão do velho
Consenso e a ele acrescenta a necessidade de tratar do social não como
um mero "sopão" para os pobres mas
como fator indispensável para o desenvolvimento sustentável.
Aqui na Argentina, um dos centros
de estudo que se encantou com o chamado neoliberalismo, a Fundação
Capital, agora revê conceitos e afirma, em documento da semana que
terminou: "A situação vigente requer
políticas não apenas pró-mercado
mas também pró-sociedade".
O ministro brasileiro da Fazenda,
Antonio Palocci, vem dizendo mais
ou menos a mesma coisa, ainda que
se sinta constrangido, por medo dos
tais mercados, a pôr a ênfase (e a
ação, por ora) mais no "pró- mercado" do que no "pró-sociedade".
O leitor dirá que essas coisas são óbvias e que afirmá-las agora com
pompa e circunstância equivale a redescobrir a pólvora. É verdade mas é
igualmente verdade que, nos anos 90,
a ideologia dominante tinha obsessão apenas com os mercados.
Se o novo discurso irá ou não além
da retórica, é questão aberta. Ser pró-mercado é mais fácil, porque é nele
que está o dinheiro e, por extensão, o
poder. Ser pró-sociedade é complicado, primeiro porque os interesses são
multifacéticos e, segundo, porque
atender aos mais necessitados em geral vai significar enfrentar os mais
poderosos.
No Brasil, até agora, o PT não deu a
mais leve demonstração de que pretende fazê-lo. Na Argentina, que teve
o governo mais "pró-mercado" dos
90 na região, só a partir da eleição de
hoje se terá uma primeira noção de
quanto o "pró-sociedade" vai ou não
aparecer no futuro próximo.
São os dois países que marcam a
moda na região.
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