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ELIANE CANTANHÊDE
A esquerda é uma festa!
BRASÍLIA - Nacionalismo a la anos 60, estatização e corporativismo. Essas questões ideológicas, que pareciam ter chegado a um razoável consenso depois de décadas, estão de volta com tudo no governo Lula.
Com praticamente todas as correntes de esquerda no poder, aguçam-se
as velhas divergências: "Nós temos
diferenças, sim, e cada vez mais acentuadas", admitiu o ministro Roberto
Amaral (Ciência e Tecnologia), em
entrevista à Folha. Um dos ideólogos
do PSB, está muito mais próximo do
discurso estatizante e corporativista
de Brizola, do PDT, do que do novo
PT que assumiu o governo.
PSB, PDT e PC do B parecem estar
de um lado, e o comando do PT e do
governo, de outro, junto com os reformistas PPS e PSDB. PPS está na situação, e PSDB, na oposição. Mas
eles falam a mesma língua!
Nessa salada, a cúpula do PT fala
uma coisa, e a base, outra. O PSB e o
PDT governistas, uma, e o PSB de
Garotinho e o PDT de Brizola, outra.
A esquerda é mesmo festiva. Juntando-se o PSDB, de centro-esquerda, tudo é uma festa.
O debate ideológico se materializa
no ministério de Amaral, que entrou
para acomodar o seu PSB e vem incomodando todo o resto. E é uma área
sempre estratégica, particularmente
num governo angustiado entre o desenvolvimento e uma política financeira baseada em juros estratosféricos. Como pensar em desenvolvimento industrial sem um forte apoio de
ciência e tecnologia?
Amaral parece querer passar uma
borracha em tudo o que foi feito no
governo FHC e começar do zero. Temerário. Muita coisa foi feita, houve
avanços e só são necessários ajustes.
Mas Amaral apela para a ideologia:
"Nós ganhamos a eleição, mas o conservadorismo social-democrata está
ganhando o debate ideológico".
Sua área se comporta como o bastião do velho nacionalismo e do refluxo na desestatização e na descentralização. Mas o pior nem é isso: é
que a ordem veio "de cima". O discurso de Lula está mais moderno,
mas a alma continua a de sempre?
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