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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Revendo a nota

RIO DE JANEIRO - Em crônica da semana que passou, e atendendo ao pedido de uma repórter, dei notas de zero a dez aos cento e tantos dias do novo governo.
Embora não tenha nada de jurado de escola-de-samba, que dá notas para bateria, porta-bandeira, comissão de frente etc., dei nove e meio para Lula, cinco para a equipe econômica e zero para o Fome Zero.
Vou rever minha nota para Lula. Na minha desastrada opinião, ele perdeu pontos. Porta-bandeira do governo, suas evoluções eram quase perfeitas e quase mereciam o dez. Tirei-lhe apenas meio ponto por causa do Fome Zero, que levou o rotundo zero que merece.
No final da semana, ele acusou o Judiciário de ser uma "caixa-preta". Sem entrar no julgamento de valor da acusação, acho que Lula deve esquecer o candidato que diz o que quer e pensa. Ele agora é presidente da República, chefe do Poder Executivo. E não deve nem pode acusar um Poder tão poder quanto o dele, sob pena de desrespeitar a Constituição e o bom senso.
Caixa-preta o Executivo também tem -e muitas. Mais de três meses encarapitada na Capital Federal, há uma chusma de assessores, conselheiros, gente que espera fazer isso ou aquilo. Os jornais noticiam que só na Academia de Tênis há mais de 50 companheiros no banco de reserva, esperando o momento de entrar em campo.
Insisto: Lula deve esquecer o candidato, encarnar o papel de presidente. Seus discursos, no plano doméstico, são ainda de candidato. No plano internacional, sim, ele está se saindo bem, melhor que FHC, que se curvava ao mais forte.
Mas no uso interno, como certos remédios antigos, ele precisa agitar antes de tomar qualquer decisão, sobretudo quando fala de improviso. Agitar no sentido de homogeneizar suas idéias, a do operário, a do líder sindical, a do candidato e a de presidente da República.
De nove e meio, ele passa a sete e meio. Ainda é uma boa nota. Torço para que logo chegue ao dez que dele se espera.


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