|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Revendo a nota
RIO DE JANEIRO - Em crônica da semana que passou, e atendendo ao pedido de uma repórter, dei notas de
zero a dez aos cento e tantos dias do
novo governo.
Embora não tenha nada de jurado
de escola-de-samba, que dá notas para bateria, porta-bandeira, comissão
de frente etc., dei nove e meio para
Lula, cinco para a equipe econômica
e zero para o Fome Zero.
Vou rever minha nota para Lula.
Na minha desastrada opinião, ele
perdeu pontos. Porta-bandeira do
governo, suas evoluções eram quase
perfeitas e quase mereciam o dez. Tirei-lhe apenas meio ponto por causa
do Fome Zero, que levou o rotundo
zero que merece.
No final da semana, ele acusou o
Judiciário de ser uma "caixa-preta".
Sem entrar no julgamento de valor
da acusação, acho que Lula deve esquecer o candidato que diz o que
quer e pensa. Ele agora é presidente
da República, chefe do Poder Executivo. E não deve nem pode acusar um
Poder tão poder quanto o dele, sob
pena de desrespeitar a Constituição e
o bom senso.
Caixa-preta o Executivo também
tem -e muitas. Mais de três meses
encarapitada na Capital Federal, há
uma chusma de assessores, conselheiros, gente que espera fazer isso ou
aquilo. Os jornais noticiam que só na
Academia de Tênis há mais de 50
companheiros no banco de reserva,
esperando o momento de entrar em
campo.
Insisto: Lula deve esquecer o candidato, encarnar o papel de presidente.
Seus discursos, no plano doméstico,
são ainda de candidato. No plano internacional, sim, ele está se saindo
bem, melhor que FHC, que se curvava ao mais forte.
Mas no uso interno, como certos remédios antigos, ele precisa agitar antes de tomar qualquer decisão, sobretudo quando fala de improviso. Agitar no sentido de homogeneizar suas
idéias, a do operário, a do líder sindical, a do candidato e a de presidente
da República.
De nove e meio, ele passa a sete e
meio. Ainda é uma boa nota. Torço
para que logo chegue ao dez que dele
se espera.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: A esquerda é uma festa! Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Um alerta para todos nós Índice
|