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CLÓVIS ROSSI
Leitores de bula
SÃO PAULO - No início do governo Lula, no ano passado, um dos principais auxiliares do ministro Antonio
Palocci mostrou-se extasiado, em
Davos, por reunir-se com o que ele
próprio chamava de "livros-texto"
(de economia, obviamente).
Queria dizer que quase todos os
economistas com os quais se avistara,
à margem do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em 2003,
haviam escrito um clássico sobre algum item específico da economia.
Na hora, não estranhei muito. Se
houvesse clássicos de jornalismo, talvez eu também me entusiasmasse ao
conversar com seus autores.
Mas, depois, foi ficando evidente
que esse entusiasmo pelos manuais é
a origem da medíocre política econômica adotada pelo governo Lula.
Como o presidente não entende de
economia (o que ficou ainda mais
claro pela sua irritação ao negar que
siga, basicamente, o manual herdado
do governo anterior), tem de orientar-se pelo que diz o seu ministro da
Fazenda.
Como o ministro da Fazenda admite só entender o básico, tem de
pautar-se pelo que dizem seus assessores. Como os assessores se entusiasmam com "livros-texto", não têm
nem ousadia nem vôo próprio para
propor algo que não seja o mais mofino feijão-com-arroz.
É bom deixar claro que não tenho
nada contra "livros-texto". Não é necessário reinventar a roda ou repetir
erros que outros já cometeram só para parecer inovador ou por desprezar
o conhecimento acumulado.
Mas limitar-se aos clássicos -e,
mais que isso, deslumbrar-se com
eles- é limitar o alcance das políticas adotadas ao que deu certo em determinadas condições políticas, econômicas e sociais necessariamente
diferentes das do Brasil.
Economia não é ciência exata para
deixar a política econômica a cargo
de meros leitores de bula.
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